Economia

Gestoras aumentam aposta em fundos com aplicação no exterior

O mau humor em relação às aplicações brasileiras e a maior facilidade para ter na carteira recursos de origem estrangeira levaram os fundos com investimento no exterior para o maior nível de patrimônio desde 2015. Os fundos instituídos lá fora, mas com gestão nacional, acumulam R$ 49 bilhões em investimentos até agosto, 8% mais que em 2017, segundo a Anbima, entidade que regula os fundos.

Esse movimento ganhou força a partir de 2015, quando deixou de ser exigida a aplicação de no mínimo R$ 1 milhão para entrar em fundos que têm mais de 40% investidos no exterior. Esses fundos podem estar tanto sob o guarda-chuva de fundos renda fixa, ações ou multimercado, desde que tenham foco em estratégias chamadas offshore.

Muitas instituições já reduziram a exigência mínima para investir nesses fundos para R$ 25 mil e algumas pedem até menos. Mesmo com o aporte mínimo mais baixo, só investidores com mais de R$ 1 milhão aplicados no mercado têm acesso a eles.

Com a queda da taxa de juros, a desvalorização do real e Bolsa com alta menor que o esperado, esses investidores com um patrimônio mais gordo expandiram seus horizontes em busca de rentabilidade. Entre os fundos multimercado (que aplicam tanto em juros, como moeda e/ou ações), por exemplo, aqueles com estratégia só no exterior, têm a maior rentabilidade média, de 13% em 12 meses.

O fácil acesso e a piora dos produtos financeiros brasileiros fizeram o patrimônio dos fundos do Itaú USA Asset Management com exposição no exterior saltar de cerca de R$ 2 bilhões, em 2017, para quase R$ 8 bilhões em julho.

Como o interesse por esse tipo de aplicação já vinha dando sinais de crescimento por parte de investidores de alta renda, Charles Ferraz, que chefiava a área private do banco passou a ser o responsável pelos investimento desses clientes nos EUA em 2016. “O investidor tinha se acostumado a receber 1% todo mês de suas aplicações. Agora que ele não tem isso, vai atrás de outras coisas.”

De olho na demanda por ativos gringos, a GEO Capital, nasceu em 2013 com fundos que possuem só ações de empresas internacionais. Em cinco anos, ela saiu de 11 clientes e chegou a 300, com patrimônio de R$ 600 milhões, conta o sócio Gustavo Aranha. Para acessar os fundos da gestora, é preciso desembolsar R$ 25 mil.

O maior interesse por ativos globais, explica Arthur Wicman, gestor de ações da Verde Asset, é tanto estrutural, quanto cíclico. “Parte do crescimento vem desse mau humor com o Brasil e outra parte vem da necessidade de diversificação.”

Reforço

As regras que entraram em vigor em 2015 também permitiram que gestores de fundos que não têm como foco a estratégia global, pudessem aumentar a fatia do patrimônio que aplicam em ativos internacionais.

Com a mudança, fundos que aplicam em produtos brasileiros e são voltados para o investidor comum puderam aumentar a aplicação máxima fora do País de 10% do patrimônio líquido para 20%. Nos fundos para investidor qualificado (aquele que tem mais de R$ 1 milhão), foi de 20% para 40%.

A gestora AZ Quest foi uma das que reforçou a estratégia no exterior de seus fundos multimercado, que aplicam em diversos ativos. Com o incremento do foco internacional, o risco na carteira subiu de 5% para 30%. O aporte inicial caiu de R$ 25 mil para R$ 10 mil.

A RBR Asset, gestora focada no mercado imobiliário, começou a comprar empreendimentos em Nova York no ano passado com objetivo de estruturar um fundo multimercado, já que a legislação não permite fundo imobiliário com empreendimentos no exterior.

A empresa investiu US$ 20 milhões e tem o objetivo de chegar a ter US$ 100 milhões na estratégia offshore, até o final de 2019. A ideia do fundo, ainda sem data de lançamento, é dar 15% de retorno ao ano para o investidor para que o capital dobre entre de 5 e 7 anos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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