Dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro lançar uma ofensiva inédita e elevar a temperatura entre o Palácio do Planalto e o Judiciário entregando ao Senado pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o decano da corte máxima, Gilmar Mendes afirmou que a fabricação artificial de crises institucionais infrutíferas afasta o país do enfrentamento dos problemas reais .
A estratégia de Bolsonaro inquieta a toga. A cúpula da Justiça reagiu energicamente à pretensão do presidente em tentar tirar Alexandre do caminho cobrando do Senado reação à toda e qualquer tentativa de rompimento do Estado de Direito e da ordem democrática .
A indicação de Gilmar se deu no perfil do magistrado do Twitter. Sem mencionar o chefe do Executivo, o decano disse que é hora de reordenar prioridades . Gilmar apontou a pandemia da Covid-19, a inflação galopante e a paralisação das reformas necessárias como temas que devem integrar a agenda política.
A referência de Gilmar à fabricação artificial de crises institucionais se dá em meio a um momento de tensão na relação entre os Poderes, principalmente entre o Executivo e o Judiciário. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados fazem ataques sucessivos ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros, a Justiça respondeu às inverdades do presidente e seus apoiadores sobre as urnas eletrônicas e as ameaças às eleições 2022.
Alvo do momento de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes tem sob sua relatoria diferentes processos que são sensíveis ao Palácio do Planalto, entre eles inquéritos que miraram recentemente aliados do presidente, como o ex-deputado Roberto Jefferson e o cantor Sérgio Reis – sob suspeita de incitar a população a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia ao lado de empresários do agronegócio. Além disso, Alexandre de Moraes será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral – atualmente chefiado por Luís Roberto Barroso, outro alvo de ataques de Bolsonaro – durante as eleições 2022.