Em 2012, o fotógrafo pernambucano Gilvan Barreto lançou um livro precioso, Moscouzinho. Com imagens em pequeno formato, ele narrava sua memória de infância por ter vivido naquele município Jaboatão que, em 1947, recebeu o nome de Moscouzinho por ter eleito o primeiro prefeito comunista do Brasil.
Dois anos depois, o trabalho cresceu e imagens que num primeiro momento não foram selecionadas para o livro – um álbum de memória – criaram um novo significado a partir da leitura criteriosa da curadora Geórgia Quintas. De imagens aparentemente relegadas a um arquivo nasceu a exposição Arqueologia de Ficções, que abre nesta terça-feira, 5, na Doc Galeria. “Não queria o livro na parede”, conta Gilvan, em entrevista por telefone. “A Georgia propôs uma nova pesquisa em cima do material.”
Se no livro o tom era mais confessional – “Cresci no meio político, meu pai foi um homem de esquerda, aquele mundo marcou minha vida” -, na exposição, o enfoque ficou mais para a pesquisa de arquivo, as colagens, as imagens trabalhadas, que acabaram compondo uma série que muito se aproxima a cartazes políticos.
O projeto começou a se delinear misturando imagens de álbum de família, fotografias encontradas nos arquivos do Dops, com fotografias que foi produzindo, imagens de lugares, objetos, foto de fotos, colagens. O reencontro do olhar de uma criança que trabalha no território dos afetos. “Agora com a Georgia, construímos uma nova proposta, as imagens na parece ampliadas em grande formato adquirem uma nova narrativa, uma nova exposição, quase um novo olhar sobre o mesmo trabalho”, diz Gilvan.
Arqueologia das ficções deriva das próprias ideias ou memória que uma criança guardou de um tempo vivido e que, mais tarde, se reencontra com um tempo narrado pela história ou o que dela sobrou. Ficção e documento. Afeto e história oficial.
Decidiu-se pela digressão em construir um discurso metafórico. Partiu da conduta em trazer camadas soterradas pela fotografia. Ou seriam carcomidas pela memória?, como relembra Georgia, com a narrativa criada em conjunto com o fotógrafo, a exposição se torna memória de um tempo e de um país. Um país que ainda tem muitas contas a acertar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.