A líder do partido ultradireitista Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, aceitou nesta sexta-feira, 21, formar o novo governo do país, após se reunir com o presidente Sergio Mattarella, que formalizou o convite. Meloni será a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra da terceira maior economia da União Europeia (UE) e membro da Otan. Sua ascensão ao poder ocorre um século depois de Benito Mussolini.
O partido de Meloni foi o mais votado nas eleições parlamentares de 25 de setembro, nas quais concorreu em coalizão com outras duas legendas de direita – a Liga, liderada pelo ex-ministro do Interior Matteo Salvini, e o Força Itália, do ex-premiê e magnata das comunicações Silvio Berlusconi. Por isso, já era esperado que ela recebesse a incumbência de formar o governo.
A posse do novo governo vai acontecer neste sábado, 22, no Palácio Quirinale, a sede da presidência, às 10h (5h de Brasília).
Seu primeiro anúncio foi nomear Giancarlo Giorgetti como ministro da Economia, considerado uma figura moderada e pró-europeia da Liga. Giorgetti terá de coordenar com os demais países da UE a resposta a uma situação difícil, acentuada pela crise energética e pela inflação.
Apesar de sua reputação de eurocética, Meloni também nomeou um europeu convicto, o ex-presidente do Parlamento Europeu Antonio Tajani para chefiar a diplomacia.
<b> Sem reservas </b>
A política romana, de 45 anos, aceitou o cargo de premiê "sem reservas", algo incomum na política italiana, pois aqueles convidados a governar geralmente precisam de alguns dias para resolver os aspectos finais antes da posse.
O Irmãos de Itália, um partido herdeiro do pós-fascista Movimento Social Italiano, despontou na política do país como a única oposição ao governo de união nacional liderado por Mario Draghi desde fevereiro de 2021.
Meloni ainda terá de se submeter à aprovação das duas casas do Parlamento – Senado e Câmara dos Deputados -, mas trata-se de uma formalidade, já que a coalizão que ela integra tem maioria suficiente fazê-lo.
Por sua vez, a oposição contará com o progressista Partido Democrático, o populista Movimento Cinco Estrelas e o centrista Terceiro Polo, entre outras pequenas bancadas.
<b>Tensões com Berlusconi</b>
A tarefa de Meloni não será fácil, pois ela terá de manter a unidade em uma coalizão que já mostra fissuras.
Salvini e o ex-primeiro-ministro Berlusconi rejeitam a autoridade dessa mulher, cujo partido obteve 26% dos votos em 25 de setembro, em comparação com os 8% do Força Itália e os 9% da Liga. A imprensa italiana tem levantado várias dúvidas sobre como ficará a distribuição dos cargos.
Na política externa, Meloni é favorável à Otan e à Ucrânia na guerra travada pela Rússia neste país desde fevereiro. Uma posição que contrasta com a de Berlusconi, que se auto congratulou esta semana por ter "retomado" seus contatos com o presidente russo, Vladimir Putin, e culpou a Ucrânia pela guerra.
Meloni se sentiu compelida a esclarecer na quarta-feira que a Itália "faz parte e está de cabeça erguida" na UE e na Otan.
A política tem tentado também minimizar nos últimos tempos os temores de que sua chegada ao poder poderia provocar em questões sociais. Oradora hábil, essa cristã conservadora hostil aos direitos LGBT+ e que tem como lema "Deus, país, família", prometeu que não tocará na lei que autoriza o aborto no país.
<b>Crise econômica</b>
Mas a crise econômica será uma questão inevitável. A inflação na Itália atingiu 8,9% ao ano, no índice registrado em setembro, e o país corre o risco de entrar em recessão técnica no próximo ano, assim como a Alemanha.
A margem de manobra é limitada por sua colossal dívida pública, que representa 150% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior proporção da zona do euro, atrás da Grécia.
O crescimento italiano também dependerá dos quase 200 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) de subsídios e empréstimos acordados pela UE no âmbito de seu fundo de recuperação pós-pandemia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)