Em 1964, Glauber Rocha estava em Cannes apresentando Deus e o Diabo na Terra do Sol. Era o ano em que Fritz Lang presidia o júri e Anthony Mann lançava, fora de competição, o épico monumental A Queda do Império Romano. Nunca ninguém comentou isso, mas existem boas chances de que Glauber tenha visto o Mann. Afinal, era um autor importante, idolatrado pela crítica francesa, por Cahiers du Cinéma.
Terra em Transe, de 1967, pode muito bem ter nascido da cena final do filme de Mann. Sophia Loren, como Lucila, tenta conseguir apoio nas ruas para salvar o império, que está sendo leiloado. Ela grita, e ninguém a ouve. A cena dá o tom delirante na obra-prima de Glauber. Terra em Transe passa no Canal Brasil às 13h40 desta quarta, 21. É sempre merecedor de toda atenção.
Glauber e suas estruturas bipolares. Depois que o vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) gravitou em torno do beato e do cangaceiro em Deus e o Diabo, é a vez do poeta Paulo Martins (Jardel Filho) oscilar entre o ditatorial Diaz (Paulo Autran) e o demagógico Vieira/José Lewgoy. Como a revolucionária Sara, Glauce Rocha não se dobra – como Lucila – e tem uma das maiores interpretações da história do cinema brasileiro. E o filme ainda tem a câmera na mão de ferro de Dib Lutfi. É magnífico.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>