A jornalista e apresentadora Glória Maria – que morreu na manhã desta quinta-feira, no Rio, aos 73 anos – participou de inúmeros momentos marcantes da TV brasileira, especialmente na <i>Globo</i>. Ela foi a primeira a entrar ao vivo no <i>Jornal Nacional</i> na transmissão da primeira matéria a cores do noticiário, em 1977, mostrando o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana.
A estreia como repórter foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. Aos poucos, começou a colecionar grandes feitos na tela: no <i>Bom Dia Rio</i>, fez a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua.
Em janeiro de 1977, cobriu a posse do presidente americano Jimmy Carter em Washington. No Brasil, também entrevistou chefes de Estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo. "Foi quando ele fez aquele discurso dizendo eu prendo e arrebento . Na hora, o filme acabou e não tínhamos conseguido gravar", contou Glória.
"Aí eu pedi: Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia repetir? Problema seu, eu não vou repetir , disse Figueiredo. Onde ela chegava, o então presidente dizia para a segurança: Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim ", relembrou ela, em depoimento à <i>Globo</i>.
Na emissora, tornou-se conhecida por pelas matérias especiais e viagens a lugares exóticos, especialmente a partir de 1986, quando passou a integrar a equipe do <i>Fantástico</i>, programa do qual foi apresentadora entre 1998 e 2007. Glória entrevistou celebridades como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna.
Com a cantora, aliás, viveu um momento único: ciente da impaciência de Madonna (a cantora chegou a debochar de Marília Gabriela por causa de seu inglês) e também por contar com apenas 4 minutos para fazer a entrevista, ela, nervosa, disse: "Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos." Para sua surpresa, a cantora virou-se para a equipe técnica e disse: "dê a ela o tempo que ela precisar".
Glória Maria participou ainda de coberturas relevantes, com a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Depois que encerrou sua passagem pelo <i>Fantástico</i>, Glória Maria ficou dois anos longe do ar para se dedicar a projetos pessoais, como as viagens à Índia e à Nigéria, onde trabalhou como voluntária. Nesse período, adotou as meninas Maria e Laura.
Em setembro de 2019, Sérgio Chapelin se aposentou, após 23 anos no <i>Globo Repórter</i>. A partir daquele mês, Glória Maria passou a dividir o programa com a jornalista Sandra Annenberg.
"Glória marcou a sua carreira como uma das mais talentosas profissionais do jornalismo brasileiro, deixando um legado de realizações, exemplos e pioneirismos para a Globo e seus profissionais", disse o comunicado enviado pela Globo, Ela estava internada, tratando um câncer. Glória deixa duas filhas, Maria e Laura.