Único entre as 27 Unidades Federativas brasileiras presente na 40ª Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), em Copenhague, Goiás quer adotar uma versão local do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e montar sua própria rede de preservação do Cerrado. As iniciativas têm uma motivação urgente: a maior parte do desmatamento se dá justamente no Cerrado, que superou a Amazônia como líder no passivo desde o início de 2011.
Pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) apontou que, em 2011, 6.418 km² de Floresta Amazônica foram devastados. No Cerrado, foram 7.415 km². Em 2012, o desmatamento na Amazônia caiu para 4.571 km², enquanto em áreas de Cerrado houve aumento para 7.653 km², especialmente provocado pelas atividades agropecuária e de produção de carvão vegetal. O Cerrado abrange oito Estados brasileiros e o Distrito Federal – Goiás é o único que tem 100% de seu território no bioma.
A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (Semarh) prefere não apontar o número do desmatamento no Estado porque haveria controvérsias sobre a estimativa. Mas estudo do economista Millades de Carvalho Castro publicado na página da Secretaria de Planejamento de Goiás na internet diz ter havido desmatamento anual de 1.493 km² no Estado entre 2002 e 2009. No período, 3,3% de áreas naturais de Goiás vieram abaixo. Até 2002, diz o estudo, 203,8 mil km² – 61,8% do Cerrado goiano – já tinham sido desmatados.
“O desmatamento cresce muito em Goiás porque o Estado ainda tem muitos ativos ambientais (áreas intocadas). Enquanto tivermos área agricultável e solo bom, teremos aumento do desmatamento”, afirmou Jacqueline Vieira da Silva, titular da Semarh. “Mas precisamos correr. Ao proteger o Cerrado, protegemos a Floresta Amazônica, que dele depende.”
O diálogo da Semarh com os grandes produtores de gado e de grãos, cujas atividades estão legalmente amparadas, tem sido franco e bom. Com os pequenos produtores ainda há dificuldade. A construção do cadastro estadual, em sua opinião, daria maior autonomia para a Semarh atuar especialmente nessa frente. O novo cadastro, que deve ser criado até o fim de dezembro, facilitaria a adoção de iniciativas da rede de proteção do Cerrado.
Plano
O governo federal atua com base no Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado responde por 5% da biodiversidade do planeta e é a mais rica região de savana do mundo. Até 2008, perdeu 204 milhões de hectares e 47,8% da cobertura vegetal.
Até 2002, foram desmatados 890,6 mil km². Nos seis anos seguintes, mais 85,1 mil km². O desmatamento é contabilizado como emissão de gases de efeito estufa, mesmo que não seja causado por queimadas. Parte do esforço brasileiro para cumprir seus compromissos de redução de emissões – entre 36,1% e 38,9% até 2020 – depende dos resultados do Cerrado.