Após sobreviver à pandemia, as companhias aéreas lutam agora para reduzir ou adiar as dívidas feitas nos últimos três anos, quando a demanda por voos recuou drasticamente. Nas últimas semanas, a Azul vem renegociando suas dívidas, enquanto a Gol conseguiu uma injeção de capital vista por uma agência classificadora de risco como um "calote seletivo".
As negociações ocorrem em meio a um ambiente de incertezas, com o real desvalorizado e o preço do combustível de aviação em patamar elevado. Para analistas, as empresas estão em uma situação delicada, pois, diante da alta dos custos que têm enfrentado, precisam elevar ainda mais o preço das passagens para gerar caixa e pagar credores. Se sobem as tarifas, porém, perdem clientes e ficam com voos insustentáveis do ponto de vista financeiro. Daí, a necessidade de renegociação.
"Durante a pandemia, as aéreas acumularam dívidas. Agora, as ações delas valem muito pouco comparado ao (período) antes da crise. Isso mostra preocupação em relação à capacidade das empresas de rolar essas dívidas", diz o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista no setor aéreo. As ações de Gol e Azul valem hoje pouco mais de 12% do registrado no pré-pandemia.
<b>TÍTULOS VENCIDOS</b>
No caso da Gol – que acumula R$ 26 bilhões em dívidas -, o anúncio feito no início de fevereiro de que a empresa receberia um aporte de US$ 1 bilhão foi insuficiente para as ações se valorizarem. No mercado, os analistas reclamam que há poucas informações sobre a transação e que, até agora, não conseguiram conversar com a direção de relações com investidores da companhia.
Por enquanto, o que se tem de informação é que a Gol está trocando títulos de dívida que venciam entre 2024, 2025 e 2026 por papéis que vencem em 2028. Por outro lado, pagará juros mais altos. Os títulos que serão substituídos tinham taxa de juros que variavam entre 3,75% e 8%. Os novos têm taxas de 18%.
A transação que mudará o perfil da dívida e elevará o dinheiro no caixa da empresa é complexa. Parte do investimento na aérea será feita em dinheiro – acionistas da Abra (holding criada para controlar as operações da Avianca e da Gol) vão colocar US$ 175 milhões na companhia e alguns detentores de títulos vão injetar mais US$ 243 milhões.
Outra parte do investimento virá da venda de títulos. A Abra comprará com desconto, do grupo de detentores de papéis que está fazendo o aporte, títulos emitidos pela Gol com valor nominal de US$ 680 milhões. Os papéis serão devolvidos para a Gol, que irá cancelá-los.
Segundo um analista do mercado financeiro, na prática, a transação anunciada pela Gol é um modo de a Abra ajudar a empresa a rolar a dívida.
Apesar de o mercado reconhecer que a medida dá fôlego para a companhia aérea, um dos pontos que desagradaram aos investidores foi o fato de a estrutura da transição beneficiar os acionistas e detentores de títulos que estão fazendo a injeção de recursos – eles têm preferência no pagamento.
<b>Companhia ainda tenta quitar aluguel de aeronaves</b>
A Azul ainda não conseguiu fechar a renegociação de seus débitos. A empresa tem R$ 22 bilhões em dívidas e precisa pagar, em 2023, R$ 3,8 bilhões a arrendadores de aviões e R$ 700 milhões a bancos, segundo pessoas a par da negociação. Do total devido a arrendadores, R$ 3,2 bilhões são referentes ao aluguel anual das aeronaves e R$ 600 milhões ao valor postergado durante a pandemia.
No fim do ano passado, a companhia já havia sinalizado a intenção de levantar capital no mercado financeiro para aliviar sua situação. A dificuldade para acessar o mercado, porém, levou a Azul a renegociar com arrendadores e bancos.
O acordo que vem sendo discutido envolve não apenas o pagamento do aluguel dos aviões deste ano, mas também o dos próximos. Há uma tentativa de reduzir o valor anual do arrendamento.
Na visão de um analista do mercado, o acordo da Azul com arrendadores deve sair em breve, mas os termos não serão tão favoráveis à aérea.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>