Estadão

Golpe no Níger frustra estratégia dos EUA e abre portas para presença da Rússia na África

O golpe militar desta semana no Níger ameaça interromper toda a estratégia dos EUA para combater militantes islâmicos à medida que eles se expandem pela África ocidental e, potencialmente, dá à Rússia uma vantagem estratégica ao tentar ampliar sua própria influência na região.

A peça central da abordagem dos EUA para a segurança regional tem sido o envio de comandos americanos para treinar forças locais de elite para enfrentar a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Agora, com a poeira ainda baixando, depois que militares derrubaram o presidente do Níger, Mohamed Bazoum, os EUA se vêem limitados pela lei americana que os proíbe de fornecer a maior parte da ajuda de segurança aos regimes militares.

E com o apoio das Forças Armadas do Níger à revolta, a preocupação em Washington é que os líderes do golpe arrisquem ceder mais terreno aos militantes depois de se separarem dos EUA e recorrerem a mercenários russos para ajudá-los a revidar.

Golpes em Burkina Faso e Mali nos últimos dois anos já dificultaram a assistência militar dos EUA à região. Depois de tomar o poder, os militares de Mali e Burkina Faso expulsaram as tropas da França, a antiga potência colonial em grande parte da África Ocidental. O Mali contratou centenas de combatentes do Wagner Group ligados à Rússia, que foram acusados de massacrar civis e pilhar os recursos naturais do país.

"O Níger é o último dominó que esperamos que não caia", disse um alto funcionário da inteligência dos EUA. "Se cair, não sei exatamente o que você vai fazer." O oficial disse que o Níger foi a "última grande pegada" no Sahel para as forças americanas e francesas. Uma ruptura pós-golpe com o Ocidente poderia dar a Moscou a chance de intervir com armas e mercenários, como fez no Mali, segundo analistas.

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