Estadão

Golpistas italianos criam país falso, prometem cidadania e lucram 400 mil euros

Doze pessoas foram detidas e outras 30 estão sendo investigadas na Itália por terem inventado um país falso e enganado cerca de 700 pessoas com a promessa de cidadania, menos impostos, passaportes, terrenos e até um título de nobreza. A operação foi revelada na última quinta-feira, 18, pela polícia de Catanzaro na região da Calábria, sul da Itália.

Segundo a polícia, os golpistas criaram a falsa nação chamada "Estado Teocrático Antártico de San Giorgio", que teria soberania e privilégios autónomos "em virtude do Tratado Antártico de 1959" e concedia cidadania a quem a solicitava, em troca de entre 200 e 1.000 euros (cerca de R$ 1.000 e R$ 5.200). Em cerca de um ano, os membros desta rede conseguiram enganar 700 pessoas em toda a Itália e arrecadar cerca de 400.000 euros (R$ 2 milhões)

A operação, chamada "A ilha que não existe", foi lançada pela polícia de Catanzarom em abril de 2021, após uma busca a uma propriedade que tinha sido indicada como a sede diplomática do Estado fictício.

Para dar credibilidade à existência do país falso, os golpistas criaram instituições de governo, como Chefe de Estado, Ministros, Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal, Delegações Territoriais, além de um Diário Oficial, site oficial e, principalmente, a criação de documentos de identidade válidos também para a expatriação.

Além disso, o falso Estado oferecia diversas vantagens aos seus nacionais: "desde o possibilidade de receber financiamento para seus projetos de pesquisa, à possibilidade de beneficiar de uma burocracia mais enxuta para suas empresas ou de usar documentos do Estado para circular livremente na Itália e no exterior, à possibilidade de permitir a entrada no território nacional de cidadãos estrangeiros", diz a nota oficial da polícia italiana.

O maior atrativo do suposto Estado era a redução de impostos, diz a polícia, "com uma alíquota igual a de apenas 5% a ser paga ao novo Estado de pertencimento com correlativa isenção de pagamento de impostos na Itália". Também havia a possibilidade de preservação de bens próprios de eventuais ações executivas do Estado italiano e a possibilidade de continuar a exercer a profissão de médico mesmo se tiver tido seu registo suspenso e de poder ficar isento das obrigações de vacinação contra a covid-19.

"Em pelo menos dois casos, surgiu a venda de terras na Antártica com título de nobreza", e até carteira de motorista do falso país foi utilizada em uma blitz policial.

"Constatou-se também que os criminosos criaram documentos de identificação falsificados (passaportes, bilhetes de identidade diplomáticos), mas totalmente correspondentes a formatos internacionais, e que os utilizaram em hotéis, na Itália e no estrangeiro, bem como nas verificações policiais e em alguns aeroportos, também para gerenciar o tráfico ilícito de drogas", informou a polícia.

Entre os 12 detidos, em prisão domiciliar, está o antigo general da Guarda Financeira Mario Farnesi, de 72 anos, que foi "a referência operacional de todas as ramificações do Estado Teocrático" e o autor dos documentos falsos para obter a nacionalidade.

Os golpistas são acusados de formação de quadrilha, fraude, fabricação e posse de documentos falsos válidos para expatriação e lavagem de dinheiro. De acordo com as autoridades policiais, o dinheiro ilícito da operação era enviado para uma conta estrangeira situada em território maltês, onde estaria sediado um representante do falso Estado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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