Estadão

Gordura que causa celulite não é vilã para problemas cardíacos

A gordura subcutânea, como a que caracteriza quadris largos e coxas grossas e pode causar celulite, não é necessariamente prejudicial à saúde. De acordo com um novo estudo publicado na revista <i>Heart Failure</i>, do Colégio Americano de Cardiologia, o risco aumentado para problemas cardíacos está associado à presença da gordura intramuscular, armazenada dentro dos músculos, mesmo em pessoas magras.

O estudo foi feito com 2.399 pessoas nos Estados Unidos, entre 70 e 79 anos (48% homens, 40% negros), acompanhadas ao longo de 12 anos. Para avaliar a presença de gordura, os especialistas da Universidade do Texas, usaram o músculo da coxa. A principal conclusão é de que a gordura que fica em volta do músculo – justamente aquela que costuma causar celulite – não aumenta o risco de problemas cardíacos. No entanto, aqueles que apresentavam gordura intramuscular tinham um risco aumentado em 34% de desenvolver problemas cardíacos.

<b>Localização</b>

Já é bastante sabido que o excesso de peso está associado a vários problemas de saúde, entre eles eventos cardíacos, câncer, diabete, pressão alta e depressão. Mas o que determina o risco não é tanto o peso total da pessoa, mas sim os locais do corpo em que a gordura se acumula. A gordura subcutânea, aquela que se consegue beliscar, é a menos preocupante, segundo os especialistas, sobretudo se não for muito excessiva.

A gordura considerada mais perigosa é a visceral, que se acumula na área do abdômen, aumentando a barriga. Especialistas explicam que esse tipo de gordura é metabolicamente ativa, ou seja, induz um estado inflamatório, aumentando a produção de substâncias químicas que colaboram para o surgimento de algumas doenças. Segundo os cientistas, a gordura que se acumula dentro dos músculos é desse mesmo tipo. "De forma geral, a deposição de gordura é associada a processos inflamatórios", explica o professor Marcus Oliveira, do Instituto de Bioquímica Leopoldo De Meis, da UFRJ. "Quadros inflamatórios sistêmicos e crônicos são entendidos pelo sistema imunológico como uma situação de perigo, que responde de forma tão potente quanto responderia a um agressor externo. Por isso a obesidade é uma doença muito mais complexa do que a deposição de gordura."

A gordura dos quadris e das coxas, por sua vez, é menos metabolicamente ativa e, por isso, considerada mais benigna. De maneira geral, as mulheres são mais protegidas do que os homens do acúmulo de gordura na região abdominal por causa de seus hormônios, em especial o estrogênio, que direciona a gordura para os quadris e as coxas. Depois da menopausa, no entanto, esse efeito protetor tende a ser reduzido, conforme os níveis de estrogênio decrescem.

Ou seja, embora a maioria das mulheres deteste acumular gordura nos quadris e nas coxas, aquelas que apresentam o formato corporal de uma pera tendem a ter menos risco de problemas cardíacos. Em geral, as mulheres que têm ataques cardíacos são as que acumulam mais gordura na barriga do que nos quadris.

O aumento da largura do pescoço também pode ser um indício de risco aumentado de problemas cardíacos, segundo especialistas, porque é um indicador de acúmulo de gordura na parte superior do corpo. Mulheres com uma circunferência superior a 35,5 cm e homens com mais de 43,1 cm devem estar atentos.

A má notícia é que não existe uma forma de perder gordura apenas nos locais mais perigosos. Ou seja, somente uma mudança de estilo de vida e a redução geral da gordura corporal são capazes de prevenir os problemas.

<b>Dicas</b>

Algumas dicas podem ajudar, de acordo com os médicos. As chamadas gorduras saudáveis, como o azeite, previnem a formação da gordura intramuscular, diferentemente das gorduras saturadas. A ingestão de fibras também ajuda na prevenção do acúmulo de gordura dentro dos músculos, bem como exercícios físicos.

Uma das maiores promessas da medicina na área, no entanto, vem da gordura marrom. Em 2009 foi constatado que além de termos alguns depósitos dessa gordura (no pescoço, na clavícula e na coluna), ela tem efeitos positivos. Naturalmente, ela é ativada diante do frio intenso, por exemplo, queimando gordura para gerar calor. Quer dizer, é uma gordura que ajuda a emagrecer.

"Quando pegamos um camundongo obeso e o expomos ao frio, ele fica magrinho", conta Oliveira. "Isso não significa que vá funcionar desta forma com seres humanos. Mas certamente existe uma janela de oportunidade."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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