Uma confraternização promovida pelo governador interino do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), neste domingo, 28, em Itaipava, Petrópolis, na Região Serrana, levantou suspeitas de aglomeração em meio à alta de casos da covid-19 no Estado. Às 22h, a assessoria do governo informou ao <i>Estadão/Broadcast</i> que o movimento de pessoas e veículos que fora relatado pelo jornal <i>O Globo</i> era uma pequena comemoração familiar.
Segundo o jornal carioca, havia doze carros estacionados na porta da casa onde ocorria a celebração, iniciada ao meio-dia. O governo afirmou por nota que Castro almoçou com parte de sua família. Estavam lá a mulher, os pais, irmãos e filhos do governador. O governador completa 42 anos nesta segunda-feira, 29.
"Não houve aglomeração ou festa com convidados. Os carros vistos na entrada da casa eram de familiares e de sua escolta (de Castro). Só a sua segurança, garantida pelo cargo que ocupa, utiliza quatro veículos", diz o texto encaminhado pela assessoria de imprensa do governo fluminense. A reportagem do <i>Estadão/Broadcast</i> pediu detalhes sobre o número de presentes no local ou imagens do encontro, mas não obteve retorno.
Especialistas em saúde pública recomendam que, durante a pandemia – sobretudo agora, que a doença atinge um pico de casos e mortes no Brasil – sejam evitadas aglomerações. Mesmo reuniões menores, que juntem núcleos familiares diferentes, são desaconselhadas. O objetivo é reduzir a transmissão da covid-19, que levou os sistemas de saúde do País ao colapso. Com esse objetivo – por decretos de Castro e de prefeitos -, o Estado do Rio de Janeiro iniciou na sexta-feira, 26, uma pausa de dez dias. O feriadão vai até 4 de abril.
Ao longo da última semana, Cláudio Castro protagonizou um embate com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), em relação às restrições a serem adotadas ao longo do feriado antecipado para conter a covid-19. Ao compartilhar no Twitter uma reportagem na qual Castro afirmava que municípios seriam proibidos de fechar bares e restaurantes durante o "superferiadão", Paes foi irônico. Alegou que o governador não entendera o objetivo das medidas de isolamento. "CastroFolia! A micareta do governador! Definitivamente ele não entendeu nada do objetivo de certas medidas.", escreveu o prefeito do Rio.
Castro é próximo do presidente Jair Bolsonaro, que é opositor do fechamento da economia para combater a pandemia. Também é próximo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Depois de Castro voltar atrás em sua decisão – manteve a proposta branda, mas aceitou a autonomia das prefeituras para agir diferente -, Paes foi de novo às redes sociais. "Agradeço ao governador por entender e respeitar as medidas difíceis e impopulares que tivemos que tomar partindo de decisões técnicas. Adoraria não ter que tomá-las, mas o momento nos impõe e assim me determinam as autoridades sanitárias. Continuarei como sempre no caminho do diálogo", afirmou.
As divergências tinham começado no fim de semana anterior. No sábado, 20, após uma reunião na véspera com Paes na qual não houve acordo, Castro se reuniu com empresários. Fechou com eles uma proposta branda de feriadão, com comércio e shoppings abertos e algumas limitações, sobretudo, de horário.
No dia seguinte, em novo encontro com os prefeitos do Rio e de Niterói, Axel Grael (PDT), adeptos de uma proposição mais dura, a divergência s aprofundou. Paes sentiu-se emparedado por Castro, que teria se cacifado junto ao empresariado para pressionar os prefeitos. Para ele, o governador preparara uma "sinuca de bico" para ele e Axel.