Esportes

Governo abre exceção e Brasil naturaliza dois no polo aquático para Olimpíada

Nascido na Sérvia, onde joga profissionalmente, e sem vínculo sanguíneo ou civil com brasileiros, Slobodan Soro será o goleiro da seleção brasileira de polo aquático nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Pouco mais de um ano depois de dar entrada na documentação, o atleta medalhista olímpico pela Sérvia, aposentado da sua seleção nacional, conseguiu a naturalização brasileira graças à intervenção do governo brasileiro. A portaria publicada em 14 de abril beneficia também o central croata Josip Vrlic, compatriota do técnico da seleção, Ratko Rudic.

Para que os jogadores se tornassem oficialmente cidadãos brasileiros, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) precisou convencer o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), dos “serviços relevantes” que eles podem prestar para um time que não disputa uma Olimpíada desde 1984 e recebeu convite para jogar em casa.

Nem Soro nem Vrlic cumprem a exigência inicial de ter residência contínua no País há pelo menos quatro anos. O ministério da Justiça confirma que ambos foram beneficiados pela exceção prevista no parágrafo III do Art 113 da Lei Federal 6815/1980: “O prazo de residência fixado poderá ser reduzido (para um ano) se o naturalizando haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do ministro da Justiça”. Soro e Vrlic, de acordo com a Portaria publicada no Diário Oficial da União, têm residência permanente no estado do Rio.

Ambos atuam profissionalmente na Sérvia. Na terça-feira à noite da semana passada, véspera do clássico com o Estrela Vermelha, valendo vaga na final do Campeonato Sérvio, Soro precisou deixar a concentração do Partizan para viajar ao Rio, onde recebeu o certificado de naturalização na quinta. Um dia depois, viajou de volta a Belgrado, para a final contra Radnicki, time de Vrlic.

De acordo com o ministério da Justiça, para a comprovação de residência fixa no Brasil são levados em consideração “declarações, documentos e diligências apresentadas nos processos”.

O diretor de polo aquático da CBDA, Marcos Maynard, afirmou que Soro e Vrlic “estão há quatro ou cinco anos morando no Rio”. Em 2013, o croata havia dito à reportagem que tinha fixado residência no Arpoador em julho daquele ano. “Ele não fala direito o português, não deve ter entendido a pergunta”, rebateu Maynard, em entrevista à Agência Estado. O dirigente, depois, garantiu que os dois leem e escrevem em português, condição obrigatória para receber a naturalização. A CBDA, entretanto, não quis fornecer contato dos atletas.

Em setembro de 2013, a Agência Estado revelou o interesse da CBDA em naturalizar os dois atletas. “Vamos tentar na canetada. Se for cumprir o trâmite normal, demora muito. Mas, como existiu uma predisposição do governo em ajudar, vamos ver”, disse à época Ricardo Cabral, coordenador de polo aquático da entidade

A entidade alega que só correu atrás dos dois jogadores para “compensar” a decisão de Tony Azevedo e Pietro Figlioli, ambos nascidos no Rio e criados fora do País, de seguir jogando respectivamente pelas seleções dos EUA e da Itália. Os dois foram procurados pela CBDA em 2013, mas alegaram não terem laços com o País.

Filho de um ex-jogador brasileiro e astro do Sesi-SP há duas temporadas, Tony chegou ao País arranhando o português. Ele foi o capitão dos EUA na prata olímpica em Pequim e deve seguir os passos do pai para se tornar o técnico da seleção norte-americana quando se aposentar. Já Pietro, filho do ex-recordista mundial da natação Sylvio Fiolo, cresceu na Austrália, mas defende a seleção da Itália, onde formou família. Vice-campeão olímpico em Londres, sequer fala português.

SEIS GRINGOS – Diferentemente do futebol, por exemplo, no polo aquático um atleta pode alterar sua nacionalidade esportiva durante a carreira, com a condição de que cumpra um período de “quarentena”. Como Soro não joga pela Sérvia desde o bronze olímpico em Londres e Vrlic nunca defendeu a Croácia, ambos podem reforçar o Brasil assim que forem regularizados junto à Federação Internacional de Natação (Fina).

Com a naturalização deles, o Brasil deve jogar a Olimpíada com seis “gringos”. Felipe Perrone nasceu e cresceu no Rio, mas defendeu por uma década a seleção da Espanha (pátria da avó), tornando-se um dos melhores do mundo. Amigo pessoal do croata e do sérvio, com os quais jogou na Europa, só aceitou voltar a defender o Brasil com a condição de que a seleção fosse reforçada.

O espanhol Adrian Delgado e o italiano Paulo Salemi chegaram ao País buscando cavar um lugar na Olimpíada, aproveitando-se do fato de já terem passaporte brasileiro por vínculos sanguíneos

O sexto estrangeiro é Ives Alonso González, cubano que desde 2009 mora em São Paulo. Casado com uma brasileira e professor de educação física na rede municipal, esperou os quatro anos regulamentares para entrar com o processo para obter a naturalização, por conta própria. Até agora não teve a portaria publicada.

Os seis foram chamados para uma fase de treinos da seleção no Rio, há três semanas. Soro e Vrlic apareceram na convocação oficial da CBDA como atletas do Fluminense, pior time do Troféu Brasil, mas não se apresentaram – também não haviam atuado no torneio, uma semana antes.

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