Os gestos foram discretos, mas simbólicos. O presidente Jair Bolsonaro aproveitou dois de seus compromissos públicos na viagem aos países árabes do circuito dos "petrodólares" para manifestar apreço por Israel, numa tentativa de se equilibrar nas relações diplomáticas durante o giro por Catar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos (EAU), no Golfo Pérsico.
O malabarismo do Palácio do Planalto e do Itamaraty na questão entre árabes e israelenses vem de governos passados. A tentativa de dinamizar a balança comercial e atender exportadores sempre ditou a sensível atuação dos diplomatas brasileiros no Oriente Médio. Bolsonaro, especialmente, tratou Israel como parceiro estratégico já na campanha eleitoral. Além disso, costuma posar com a bandeira do país e chegou a propor a mudança da embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, cidade no epicentro da disputa. O presidente também causou incômodo a representantes da comunidade judaica ao fazer referências a símbolos do povo hebreu, apropriados pelo setor evangélico, uma de suas bases de apoio.
Na Dubai Air Show, Bolsonaro parou no estande israelense e posou para fotos. Era uma estreia histórica. A indústria de defesa do país é renomada internacionalmente e participou pela primeira vez da feira de aviação. Bolsonaro prestigiou a exposição promovida pela Israel Aerospace Industries (IAI), fabricante de sistemas de inteligência, mísseis e radares, que atua na aviação militar e civil.
<b>EXPO 2020</b>
Ainda mais simbólica foi a visita ao pavilhão de Israel na Expo 2020, quando ele reservou alguns minutos para o encontro restrito à delegação presidencial, após circular a pé pela feira, ciceroneado por xeques dos Emirados Árabes Unidos, entre eles o ministro da Tolerância e Coexistência, Nahayan Bin Mobarak Al Nahayan. Horas antes, o presidente também havia atendido ao convite para visitar o pavilhão da Arábia Saudita, um dos mais influentes na região do Golfo.
O pano de fundo desse cenário é o conflito Israel-Palestina, fundamental para os países árabes. Na avaliação de diplomatas, porém, o tema perdeu importância em alguns países da região do Golfo, mais preocupados com o Irã.
Todos esses países continuam defendendo o lado palestino, mas não há pressão da sociedade civil para manifestações. Em outras palavras, não há a "rua árabe", expressão usada por um embaixador ouvido pelo Estadão em Dubai para definir a massa de cidadãos com pensamento crítico, que mobiliza e incomoda os governos, como pode ocorrer no Egito, Jordânia e Argélia.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou que essa relação com os países árabes é benéfica para todos. "É a tradição brasileira. O Brasil é o único lugar do mundo onde eles se entendem, árabes e judeus são amigos", afirmou Guedes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>