O governo federal liberou na terça-feira, 22, cerca de R$ 4,8 milhões para um projeto de pesquisa coordenado pela geneticista Mayana Zatz. Aprovado há mais de um ano, o projeto envolve vários laboratórios e estava com os recursos retidos. A pesquisa de Zatz foi mencionada em reportagem do <b>Estadão</b> no começo do mês como exemplo dos efeitos do congelamento ilegal de R$ 5 bilhões em verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT).
Apesar da liberação dos recursos para a pesquisa de Mayana pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a maior parte dos recursos do FNDCT continua na chamada "reserva de contingência", isto é, retidos. Cerca de R$ 2,7 bilhões estão travados. O bloqueio é ilegal, segundo especialistas consultados pelo <b>Estadão</b>, uma vez que contraria lei complementar aprovada pelo Congresso e promulgada em março.
Mayana Zatz é professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e uma das principais cientistas em sua área no País. Ela explica que, com a demora na liberação dos recursos, será preciso mudar o objeto da pesquisa. Inicialmente, a ideia era estudar a forma como a covid-19 mudava a expressão dos genes das pessoas acometidas pela doença. "A gente ia coletar amostras de mil pacientes infectados e fazer o estudo do genoma. Agora, vamos ter de mudar o projeto. Ainda estamos debatendo o que será feito", diz.
A pesquisadora acredita que a reportagem do Estadão foi importante para a liberação dos recursos, mas ressalta que o problema continua. "Claro que eu estou muito feliz de ter recebido os recursos para o nosso projeto, mas temos inúmeros pesquisadores excelentes que estão sem recursos. E também estamos perdendo os jovens que acham que não têm possibilidades de seguir carreira no Brasil", diz.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira diz que a liberação dos recursos ainda retidos é "essencial" para a ciência brasileira. "A novidade nesta área foi a nota aprovada pelo Conselho Diretor do FNDCT (na quinta), tendo como único voto contrário o do representante do Ministério da Economia", diz ele.
O conselho mencionado por Ildeu é o responsável por decidir como recursos do FNDCT serão gastos. Na quinta-feira, o colegiado se reuniu pela primeira vez desde meados do ano passado e aprovou manifestação pedindo a liberação completa dos recursos. A manifestação também diz que só o próprio conselho deve definir como o dinheiro será aplicado.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>