O anúncio oficial da abertura do escritório de negócios brasileiro em Jerusalém, feito neste domingo, 31, pelo presidente Jair Bolsonaro foi marcado por informações desencontradas e incertezas sobre o status da representação e o impacto que ela terá no eleitorado evangélico. Até o momento, nenhum dos membros da comitiva conseguiu garantir se se trata de uma parte da embaixada ou mesmo se terá um status similar.
Mais cedo, membros do governo pareciam não saber do anúncio. À tarde em Israel (manhã no Brasil), o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, havia descartado qualquer anúncio neste domingo. “Não está planejado declarar ainda”, afirmou.
No início da tarde, foi enviada uma mensagem aos jornalistas brasileiros que cobrem a visita da comitiva presidencial a Israel informando que o anúncio seria feito por meio de uma declaração conjunta de Bolsonaro e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Inicialmente, o texto dizia que o escritório seria instalado como “parte da embaixada” do Brasil em Israel, que fica em Tel-Aviv. Minutos depois, o comunicado foi alterado sem esse trecho.
Até o momento, os membros da comitiva ainda não informaram se o escritório terá um status similar ao de Embaixada. O alto escalão não falou com a imprensa e os jornalistas ainda não tiveram a oportunidade de buscar mais detalhes, já que os membros da comitiva estão em um jantar a portas fechadas no Hotel King David, onde os brasileiros estão hospedados. É possível que o porta-voz da Presidência da República, Otávio Santana do Rêgo Barros, esclareça a situação, já que há a expectativa de ele falar com a imprensa ainda nesta noite em Israel – fim de tarde no Brasil.
Ao anunciar a abertura do escritório, Bolsonaro não fez referências à embaixada e disse que a estrutura será voltada para as áreas de ciência, tecnologia e inovação. A decisão teria sido tomada pouco antes com Augusto Heleno. Para Netanyahu, no entanto, o recado foi claro: a abertura do escritório é o primeiro passo para a transferência da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém. Essa foi uma das promessas de campanha de Bolsonaro e claramente voltada para seu eleitorado evangélico. Há muitas dúvidas, no entanto, sobre se a decisão do escritório poderia agradar a parte desses eleitores sem desagradar aos que são contrários à transferência. Mais recentemente, Bolsonaro disse que não havia pressa na decisão e citou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apenas a tomou nove meses após a posse do cargo.
A programação de Bolsonaro nesta segunda-feira, 1, conta com duas atividades voltadas a pontos religiosos: as visitas à Basílica do Santo Sepulcro e ao Muro das Lamentações, que será feita com a companhia do premiê israelense. Hoje, durante o pronunciamento conjunto dos dois líderes de governo na residência oficial do primeiro-ministro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP), que é filho do presidente e integra a comitiva com outros três parlamentares, vestia um quipá, um símbolo religioso dos judeus que mostra temor a Deus. A menção a Deus também foi feita pelo discurso dos dois líderes.