No dia em que o Brasil ultrapassou 100 mil mortos pela covid-19, o Palácio do Planalto reagiu, nas redes sociais, a uma crítica feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, minimizou o número de vítimas e exaltou ações do governo Jair Bolsonaro. "Para um governo, muito mais do que palavras bonitas, a melhor forma de mostrar que se importa é trabalhando", publicou a SecomVC no Twitter, conta oficial da Secretaria de Comunicação Especial da Presidência da República.
A mensagem foi uma resposta à crítica de Moro, feita na mesma rede, e estava "fixada" no topo do perfil da SecomVC após o Ministério da Saúde confirmar que o Brasil superou 100 mil mortos, na noite deste sábado, 8.
"Não podemos nos conformar, nem apenas dizer #CemMilEdaí. São mais de 100 mil mortos; 100 mil famílias que perderam entes para a Covid. Que a ciência nos aponte caminhos e que a fé nos dê esperança", havia escrito Moro no Twitter. O ex-ministro fez referência a uma declaração de Bolsonaro do fim de abril, quando o presidente disse "e daí?" ao ser questionado sobre os mortos da pandemia.
Ao rebater Moro, a Presidência da República apresentou um "fio" (série de postagens) na rede social com 18 publicações, sendo a última uma menção ao perfil de Bolsonaro no Twitter.
Nos textos, a SecomVC afirma lamentar "cada uma das vítimas da covid-19, e de todas as outras doenças". A equipe de comunicação de Bolsonaro ainda destaca dados imprecisos, como "quase 3 milhões de vidas salvas ou em recuperação". A soma considerou, por exemplo, os 817.642 pacientes em acompanhamento, cujo desfecho da doença é incerto.
O governo também diz ter "um dos menores índices de óbitos por milhão entre grandes nações". Segundo dados da universidade Johns Hopkins, o País tem a 11ª maior taxa de mortes por 100 mil habitantes, mas a conta inclui nações de população bem menor. Entre os países mais populosos, o Brasil está apenas atrás dos Estados Unidos.
A SecomVC também publicou na resposta a Moro dados de entregas do governo federal na pandemia. A equipe de comunicação de Bolsonaro escreveu que a gestão enviou ou entregou 11.353 leitos de UTI aos Estados e municípios. O número, na verdade, refere-se a quantos espaços para internação são custeados pelo governo federal, mas a montagem e compra dos equipamentos teve de ser feita por gestores locais. O governo chegou a prometer que enviaria kits para instalação de 3 mil leitos de terapia intensiva, mas entregou apenas 540.
Ao responder a Moro, a equipe da Presidência também afirma que entregou 13,3 milhões de testes. Desta cifra, no entanto, apenas cerca de 5,3 milhões são do tipo RT-PCR, tido como "padrão-ouro" para diagnóstico. A promessa do ministério é entregar mais de 24 milhões de exames desta linha, mas como mostrou o Estadão, mais de 9,8 milhões estavam encalhados no Ministério da Saúde no fim de julho.
<b>Bolsonaro vs Moro.</b> Ex-juiz da Lava Jato em Curitiba, Moro largou a magistratura no fim de 2018 ao aceitar convite de Bolsonaro para entrar no governo. Em 24 de abril deste ano, Moro pediu demissão do Ministério da Justiça e da Segurança Pública e acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.
O presidente reagiu afirmando que Moro pedia indicação de vaga a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Supremo tem um inquérito aberto para apurar se houve tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF. O relator do caso, ministro Celso de Mello, deve decidir nos próximos dias sobre o depoimento do chefe do Executivo.