Estadão

Governo separatista de Nagorno-Karabakh anuncia dissolução; república deixará de existir

Uma semana após a vitória militar do Azerbaijão, o governo separatista de Nagorno-Karabakh disse nesta quinta-feira, 28, que se dissolverá e que a república não reconhecida deixará de existir até o final do ano, após uma tentativa de independência de quase três décadas. O anúncio ocorre enquanto autoridades armênias disseram que mais da metade da população da região já fugiu.

Em um decreto, Samvel Shajramanyan, governante do enclave de maioria armênia, anunciou a dissolução de "todas as instituições governamentais e organizações em 1º de janeiro de 2024". Isto significa que a "república de Nagorno-Karabakh", conhecida pelos armênios como Artsakh e fundada há mais de três décadas, "deixa de existir".

O decreto assinado pelo presidente separatista da região citou um acordo feito em 20 de setembro para pôr fim aos combates, segundo o qual o Azerbaijão permitirá o "movimento livre, voluntário e desimpedido" dos residentes de Nagorno-Karabakh para a Armênia.

Isso desencadeou o êxodo em massa de armênios étnicos da região montanhosa do Azerbaijão. Até a manhã desta quinta-feira, mais de 66 mil pessoas – mais de metade da população de 120 mil habitantes de Nagorno-Karabakh – tinha fugido para a Armênia, e o influxo continuou de forma intensa, segundo autoridades armênias.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o Azerbaijão de "limpeza étnica" no território do Cáucaso e pediu uma "ação" da comunidade internacional.

<b>O território</b>

A região montanhosa está dentro das fronteiras internacionais do Azerbaijão. Após o fim dos combates separatistas em 1994, depois do colapso da União Soviética, Nagorno-Karabakh ficou sob o controle de forças étnicas armênias, apoiadas pela Armênia.

Depois, durante uma guerra de seis semanas em 2020, o Azerbaijão recuperou partes da região no sul das montanhas do Cáucaso, juntamente com o território circundante que as forças armênias tinham reivindicado anteriormente.

Na semana passada, o Azerbaijão executou uma ofensiva militar relâmpago e forçou a rendição dos armênios em 24 horas, sem uma intervenção dos soldados russos de manutenção da paz, mobilizados na região desde o fim de 2020.

A Armênia, que apoiou durante décadas o território, também não intercedeu militarmente desta vez, o que abriu caminho para a reintegração efetiva de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão.

Desde então, dezenas de milhares de armênios fugiram das tropas azerbaijanas, com medo da repressão, através do corredor Lachin, a única rodovia que liga Nagorno-Karabakh à república da Armênia.

O governo armênio conseguiu abrigar até o momento apenas 2.850 pessoas, o que antecipa uma crise humanitária. "A Armênia não tem recursos e não conseguirá atuar sem ajuda estrangeira", disse à <i>AFP</i> o analista político Boris Navasardyan. <i>(COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)</i>

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