Se for confirmada a manchete do jornal “Valor Econômico” de ontem, o governo federal dará mais uma demonstração clara que não leva em consideração as relações institucionais constituídas, atapalhando diretamente o setor produtivo, justamente em nome de quem acredita que está protegendo. Segundo o jornal, o Brasil irá romper o acordo automotivo mantido com o México devido ao deficit crescente no comércio de automóveis entre os dois países. A ordem teria partido da presidente Dilma Rousseff, que estaria incomodada com a situação.
Com o acordo assinado pelos dois países, os carros mexicanos não são considerados como importados, ficando isentos da alta do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que vigora desde o mês passado. Esta outra medida controversa que não ajudou em nada no barateamento dos carros nacionais, conforme era a intenção da presidente. O problema, que não está sendo levado em consideração, é que os grandes produtores de automóveis são todos empresas mundiais, que promovem seus investimentos de acordo com planejamentos prévios realizados com base nas regras do jogo.
Desta forma, uma empresa mundial define em que plantas deve produzir determinado modelo de veículo. Com os acordos internacionais, determina-se que o carro X vem do México, o Y vem da Argentina e o Z é fabricado no Brasil. Assim, há a troca dos modelos entre os países de acordo com a demanda. É a velha lei da oferta e da procura.
O acordo automotivo firmado em 2002 passou a ficar negativo para o Brasil em 2009. Até então, era só superavit. Neste tempo, o governo brasileiro, em momento algum, quis o rompimento. Nem tampouco o mexicano, que aceitou as regras do jogo. Porém, no ano passado, o México se tornou uma boa opção de compras de veículos para algumas montadoras estabelecidas no país.
Ou seja, o governo brasileiro entra em um terreno perigoso nas relações internacionais. Enquanto está bom para mim, tudo bem. No momento em que o outro, que ficou em desvantagem durante um bom tempo, era prejudicado estava tudo na mais perfeita ordem. Entretanto, o que o governo brasileiro não enxerga é que nesse meio de campo estão as empresas, que não podem ser tratadas desta forma. Esse tipo de ação intervencionista nunca deu certo em lugar algum do mundo. E não será aqui que vingará.