O líder da Coalizão de Esquerda Radical (Syriza), Alexis Tsipras, será o novo primeiro-ministro da Grécia graças a uma aliança selada na manhã de hoje com um partido populista dissidente da direita. O acordo foi firmado durante reunião com Panos Kammenos, chefe dos Gregos Independentes (Anel). Juntos, os dois partidos terão no mínimo 162 deputados no Parlamento, mais do que a maioria necessária, de 151.
A aliança entre as duas forças já era esperada desde a semana passada, quando declarações nesse sentido haviam sido feitas por líderes dos dois partidos. O que surpreende é que os Gregos Independentes tenham sido os primeiros a serem escolhidos, já que são uma agremiação de deputados populistas egressos da Nova Democracia (ND), partido de Antonio Samaras, primeiro-ministro derrotado nas urnas.
Nas próximas horas a aliança pode crescer ainda mais. Tsipras deve receber na sede do Syriza outros dois dirigentes: Stavros Theodorakis, líder do partido de centro esquerda To Potami (“O Rio”), e Dmitris Koutsoubas, do Partido Comunista da Grécia (KKE). Com Potami as negociações já haviam sido iniciadas. Já o KKE demonstra mais resistência, por se considerar a verdadeira esquerda radical no país, classificando o Syriza como social-democrata. Na eventualidade de obter o apoio das duas agremiações, Tsipras governará com uma larga maioria de 194 deputados no Parlamento, de um total de 300.
Tsipras deve nomear para o cargo de vice-primeiro-ministro o deputado moderado Yannis Dragasakis, que terá como função supervisionar os ministérios de Finanças e de Economia e liderar as negociações para a renegociação com técnicos da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em torno da dívida soberana grega de € 321 bilhões.
Para assumir o ministério das Finanças, o cogitado é Yanis Varoufakis, doutor em Teoria Econômica da Universidade de Atenas, um dos autores do programa de governo do Syriza e deputado eleito pelo Syriza para uma vaga no Parlamento.
Falando ao Estado na noite de domingo, Varoufakis afirmou que o governo de Tsipras terá três prioridades imediatas: “enfrentar a crise humanitária” que causa grande precariedade a 300 mil pessoas no país, lançar um programa de reformas estruturais para impulsionar o crescimento e, “obviamente”, renegociar a dívida. “Há reformas essenciais a serem empreendidas com o objetivo de reconstituir a base produtiva e restaurar a Justiça e a eficiência do país”, argumentou.
Varoufakis não quis responder se o novo governo proporá aos credores um novo corte da dívida ou apenas o seu reescalonamento, com redução drástica dos juros. “Não farei nenhum pronunciamento neste momento”, disse, ressaltando porém que a negociação será profunda. “Temos de parar de afirmar que a Grécia tem um problema de liquidez, quando temos um problema de insolvência, uma das explicações para a deflação de preços e salários que impacta a Grécia”, sustentou.
A dívida da Grécia, que em 2008 era de 112,9% do PIB, fechou 2014 em 177% do PIB, segundo estimativas parciais. Em dados concretos, significa que cada grego tem uma dívida externa de € 29,7 mil a pagar. Esse montante só não é maior porque em 2012 uma reestruturação resultou em corte de € 160 bilhões em dívidas.