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Greve na França testa relevância de lideranças sindicais

A greve na França contra a reforma trabalhista continua. No entanto, apesar do volume de manifestações – pontes obstruídas, protestos nas ruas e desabastecimento de combustível, há sinais de que os sindicatos estão perdendo a capacidade de mobilizar os trabalhadores. Alguns deles querem menos táticas de confrontação, outros temem a debandada de investidores estrangeiros.

Para a CGT, a mais militante dos dois sindicatos que lideram os protestos, isso significa que a luta contra as reformas apresentadas pelo governo também se tornou uma luta pela relevância.

“A última vez que os sindicatos fizeram o governo recuar foi há quase 20 anos”, disse Stephane Sirot, uma historiadora do movimento sindical francês da Universidade de Cergy-Pontoise. “Caso o movimento termine outra vez sem vitórias, ele pode perder ainda mais relevância.”

As greves de maio estão centradas na luta contra a proposta do governo de afrouxar as restrições sobre as horas trabalhadas, demissões e benefícios – uma medida desenhada para trazer mais flexibilidade ao rigidamente legislado mercado de trabalho do país.

Em Le Havre, uma cidade industrial no norte do país, os motivos são claros: um número recorde de vendas de empresas a estrangeiros, a supressão de liberdades civis e um senso geral de que o governo socialista está traindo a base.

Para a maior união sindical da França, a greve também é uma forma de manter seu peso sobre os destinos do país.

“A CGT está perdendo força”, disse Denis Jamet, um aposentado de 65 anos que cruzava o centro da cidade na última quarta-feira. “Eles estão tentando se manter relevantes.”

Cerca de 8% a 11% da força de trabalho francesa é sindicalizada. Mas sua influência é bem maior, principalmente através da eleição de representantes sindicais e a capacidade de negociar acordos setoriais que abrangem também os não sindicalizados. O movimento mais recente tem bastante a ver com essas eleições, de acordo com Dominique Andolfatto, professor de ciência política da Universidade da Borgonha.

A CGT, um sindicato fortemente ligado ao Partido Comunista Francês e os eventos de maio de 1968 – quando o governo francês quase praticamente destruído por uma greve em massa – está na defensiva frente ao avanço de organizações mais brandas como a Federação Francesa do Trabalho, mais conhecida pelo acrônimo CFDT.

“Esses bloqueios são um sinal de força, mas também podem sinalizar fraqueza”, disse Andolfatto. “Se eles fossem realmente poderosos, fariam greves clássicas, ou protestos massivos. Isso mostra que a CGT tem tido dificuldade em mobilizar os trabalhadores.”

O debate em frente a um complexo paralisado da ExxonMobil, na semana passada, forneceu uma imagem de como a globalização tem pesado contra as mobilizações como a de 1968, mesmo em um país onde o investimento estrangeiro é relativamente modesto.

Enquanto grevistas e trabalhadores que tentavam furar a greve discutiam, um deles alertou: “esta refinaria pertence ao povo dos Estados Unidos… Se nós mostrarmos essa imagem a eles, vão querer sair daqui”, disse.

Outro manifestante contrário à greve, que se identificou como Denis, lembrou ao microfone que o número de refinarias na França caiu de 12 para 8 em apenas uma década.

“Se paralisarmos as refinarias sempre que houver manifestação, quantas vão restar?”, questionou.

A CGT e seus aliados têm tido mais sucesso em outras regiões. No terminal de petróleo de Le Havre, responsável por cerca de 40% das importações de petróleo do país, a atividade está parcialmente ou totalmente paralisada desde a semana passada. Na quinta-feira, cerca de 10 mil pessoas fizeram uma passeata com direito a banda, fogos de artifício e bombas coloridas que pintaram de vermelho, azul e amarelo as paredes cinzentas da prefeitura da cidade.

“Estamos voltando a 68”, disse Yamina Berriouche, uma manifestante de 46 anos que se esforçava para ser ouvida em meio a tambores e fogos. “As pessoas estão muito aborrecidas.”

Analistas acreditam que a disputa entre a CGT e o governo é bastante acirrada para predizer um final. De um lado, o presidente François Hollande e seu combativo primeiro-ministro Manuel Valls são ambos impopulares e suas reformas têm dividido o PS. De outro, sindicatos mais conciliadores como a CFDT têm dado apoio à reforma. Fonte: Associated Press.

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