Estadão

Greves em série pressionam governo conservador britânico

Enfermeiros de Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales fizeram ontem uma paralisação de 12 horas para cobrar do governo britânico um reajuste salarial com ganho real, em meio à crise inflacionária que tem afetado o custo de vida no Reino Unido. A greve dos enfermeiros, a primeira autorizada nos 106 anos do sindicato da categoria no país, é a mais recente de uma série de paralisações que pressionam o primeiro-ministro Rishi Sunak e afetam o cotidiano dos britânicos.

Desde o começo do mês, categorias de setores como saúde, transportes e controle de fronteiras realizaram paralisações ou aprovaram indicativos de greve, alegando falta de reajuste nos salários diante da disparada do custo de vida. O patamar de inflação do país é o maior das últimas quatro décadas, chegando a 11,1% em outubro.

No caso dos enfermeiros, o Royal College of Nursing aprovou uma primeira paralisação para ontem, entre 8 horas e 20 horas (5 horas e 17 horas em Brasília), quando 100 mil enfermeiros deixaram de comparecer a seus postos de trabalho, além de motoristas de ambulâncias e funcionários administrativos de unidades de saúde que também aderiram à greve. Uma segunda paralisação foi aprovada pelo sindicato para terça-feira, caso as negociações salariais não avancem.

Apesar das temperaturas congelantes, os enfermeiros fizeram piquetes do lado de fora de vários hospitais. Usando chapéus e luvas e segurando cartazes que diziam "A falta de pessoal custa vidas", eles pediram salários mais altos e mais trabalhadores.

De acordo com o sindicato, a paralisação não afetaria atendimentos hospitalares de emergência nem unidades de tratamento oncológico, de terapia intensiva neonatal e pediátrica. Os enfermeiros não deixaram de prestar serviços mais vitais como quimioterapia, diálise e alguns atendimentos pediátricos, mas a atenção médica não urgente ficou menos disponível.

Hospitais e outras unidades de saúde disseram que estavam tentando administrar os horários para garantir a segurança dos pacientes durante o protesto.

A onda de descontentamento com o governo pelas negociações salariais tem afetado o cotidiano dos britânicos, que passaram a consultar o calendário de greves para saber quais serviços estão ou não funcionando neste fim de ano.

A rede ferroviária, por exemplo, funcionou com apenas 20% de sua capacidade na terça e na quarta-feira, quando funcionários das ferrovias e de 14 empresas do setor realizaram uma paralisação. Novos indicativos de greve já foram aprovados para hoje e amanhã, e em quatro datas de janeiro.

O líder do sindicato dos ferroviários, Mick Lynch, culpou o governo pelo impasse. "Não tenho intenção de estragar o Natal das pessoas", disse à emissora britânica ITV na terça-feira. "O governo está contribuindo para estragar o Natal das pessoas, pois ele provocou essas greves ao impedir que as empresas apresentassem propostas adequadas."

<b>Papel do governo</b>

Sunak, cujo governo foi empossado em outubro, rejeita qualquer culpa pelas paralisações. Na quarta-feira, ele afirmou que seu governo conversou consistentemente com todos os sindicatos envolvidos em todas as disputas salariais. Em paralelo, secretários de seu gabinete endereçaram críticas a categorias relacionadas com suas pastas.

O secretário de Saúde, Steve Barclay, lamentou a paralisação dos enfermeiros ontem e culpou o sindicato por fazer os profissionais abandonarem seus postos de trabalho. "Nossos enfermeiros são incrivelmente dedicados a seu trabalho e é lamentável que alguns membros do sindicato sigam adiante com a greve", disse.

<b>Negociações</b>

Já o secretário de Transportes, Mark Harper, negou que o governo tenha bloqueado qualquer oferta de aumento salarial para os trabalhadores. "Certifiquei-me de que havia uma oferta melhor na mesa", disse à BBC.

Não há indicativos de que as paralisações estejam perto de terminar. No começo do mês, o sindicato dos funcionários públicos (PCS), que lidera uma série de ações em diferentes áreas, anunciou 12 dias de greve nas estradas inglesas, entre hoje e o dia 7.

Os trabalhadores dos correios, do Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação, também realizaram uma nova paralisação nacional de 48 horas esta semana e têm mais dias de greve agendados antes do Natal, o que deve afetar as entregas de fim de ano.

No entanto, uma pesquisa realizada pelo instituto YouGov mostrou que 64% dos entrevistados apoiam a decisão dos enfermeiros de entrar em greve por causa dos salários baixos, enquanto 28% se opõem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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