Variedades

Grupo Kodo faz apresentação sem canto, flautas e elenco feminino

A combinação instiga: o que liga Tamasaburo Bando, célebre onnagata do Teatro Kabuki (ator especializado em papéis femininos), a um grupo que se dedica ao vigor necessário para executar o taiko, o conjunto de tambores tradicionais japoneses?

A resposta está em Dadan, o espetáculo que produziram em 2009 e que estreia no Teatro Alfa, em São Paulo, nesta segunda e terça-feira (14 e 15) e depois segue para a Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (17 a 19 de março). A turnê brasileira se encerra lá, com um espetáculo gratuito no Parque Madureira, no dia 20.

Dadan, que significa “homens tocando tambor”, diferencia-se de outras obras do grupo Kodo por utilizar apenas a percussão, sem incluir dança, canto, flautas ou elenco feminino. A maneira como percutem os tambores erige muralhas sonoras de tal intensidade que o teatro se torna uma caixa de ressonância, ecoando em cada um da plateia.

A potência com que tornam o som visual e o volume dos cataclismos sonoros que promovem se completa com a admirável habilidade em também dominar a delicadeza de produzir gotas de chuva ou um silêncio no qual parece não haver sequer respiração. Depois de assisti-los, entende-se porque foram chamados de percussionistas camicases.

Seu repertório reúne peças dedicadas a preservar e a reinterpretar as artes tradicionais japonesas, mas também inclui aquelas especialmente compostas por compositores contemporâneos e outras, escritas pelos próprios membros.

A companhia, que estreou em 1981 no Festival de Berlim, está comemorando o seu 35º aniversário e Tamasaburo Bando, que trabalha com eles há 16 anos, assumiu a sua direção artística em abril de 2012, “impulsionando-os para novas formas de expressão percursiva e pavimentando o caminho para a apresentação em palcos cada vez mais renomados”, como consta em texto divulgado em seu site oficial.

Internacionalmente conhecido, o Kodo já se apresentou na cerimônia do Prêmio Nobel (2001), na abertura da Copa do Mundo (2002), faz trilha para cinema (Hero, 2003). Passa um terço do ano no exterior, um terço em turnê no Japão e o outro terço descansando e preparando material novo na sua sede, na ilha de Sado, onde se instalou em 1981.

Lá, o grupo construiu uma aldeia (1988) em uma floresta de 100 mil m², na península Ogi, na parte sul da ilha. O prédio principal reaproveita a madeira de uma fazenda local de mais de 200 anos, e a ele foram agregadas cozinhas comunitárias, áreas de jantar, uma biblioteca dedicada à música e à dança, um edifício de recepção, um edifício dormitório, um estúdio e uma sala de ensaios. Uma curiosidade: os membros do grupo que são casados passaram a construir suas casas ao redor.

A expansão foi em tal proporção que fez nascer a Kodo Cultural Foundation em 1997, com o objetivo de desenvolver programas de educação de novas gerações no Centro de Aprendizagem Kodo e um festival anual, o Earth Celebration.

A primeira obra de Tamasaburo Bando com o grupo Kodo foi Amaterasu (2006) e selou uma parceria de sucesso. Preocupado com o futuro, Bando diz que o interesse agora é criar produções cada vez mais leves e agradáveis mas que, ao mesmo tempo, mantenham um profundo sentido de espiritualidade.

“Sempre digo aos percussionistas que é claro que é importante ter uma forte técnica, mas que também precisam ser capazes de expressar suavidade e leveza, de modo a apresentar ritmos difíceis em composições exigentes com dignidade e graça”, em texto também divulgado em seu site oficial. Essa é a combinação que distingue a parceria entre eles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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