O grupo francês Publicis voltou com tudo às compras ao anunciar ontem a aquisição da americana Sapient, referência no mundo digital, por US$ 3,7 bilhões. O negócio marca a primeira grande aquisição da rede de agências depois do fracasso da fusão com outro gigante da internet, a Omnicom, que criaria um líder global em publicidade de US$ 35 bilhões.
Oficialmente, a Publicis afirma que a compra da Sapient vem para fazer do grupo um “líder em convergência de comunicação, marketing, comércio e tecnologia”. No entanto, segundo fontes de mercado, a aquisição foi uma forma de a gigante francesa ganhar força no meio digital, onde ainda não tinha uma marca forte.
O objetivo da Publicis é ter mais de 50% de suas receitas concentradas em mídias digitais até 2018. Todos os esforços do grupo na área serão concentrados em uma empresa chamada Publicis.Sapient. Entre os negócios sob este “guarda-chuva” está outra agência americana, a Razorfish, comprada pela Publicis em 2009.
A aquisição de uma das líderes nos Estados Unidos no setor digital faria sentido porque a visão da Sapient estaria muito mais próxima da mentalidade de gigantes da internet como Twitter, Facebook e Google – todas, afinal, são empresas americanas, lembram as fontes.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, a compra foi costurada rapidamente e pegou de surpresa altos executivos de ambas as empresas. Os termos da negociação foram considerados para lá de generosos pelo mercado financeiro, mas podem representar uma aposta arriscada para o grupo francês.
Alguns analistas questionaram como a Sapient Nitro – um dos braços do grupo Sapient – se encaixaria dentro do portfólio de um gigante global como a Publicis. “(A oferta de serviços) da Sapient não é suficientemente original para representar ganho substancial à Publicis”, afirmou Brian Wieser, analista da Pivotal Research, em análise citada pelo Wall Street Journal.
Prêmio
O preço de US$ 3,7 bilhões pago pela Publicis embute um prêmio de 44% em relação ao valor das ações da Sapient na última sexta-feira (US$ 17,32). O total representa também quase três vezes a receita atual da agência especializada no setor digital.
Na segunda-feira, 3, os papéis da Sapient dispararam quase 42% e fecharam cotados a US$ 24,58. A empresa, por sua conexão com o mundo digital, tem as ações negociadas no pregão Nasdaq, que concentra ações do setor de tecnologia. Fundada em 1990, a Sapient era considerada uma empresa de tecnologia até a aquisição do grupo Nitro, um grupo de agências fundado na China em 2001, mas com presença na América do Norte, na Europa, na Austrália e na Ásia.
O grupo Sapient tem hoje 37 escritórios espalhados pelo mundo, com 13 mil funcionários. No ano passado, a empresa teve um faturamento global de US$ 1,3 bilhão – alta de 12,4% em relação aos R$ 1,16 bilhão de 2012. O lucro global reportado pela Sapient em 2013 foi de R$ 77 milhões.
De acordo com comunicado divulgado ontem, a Publicis espera que a aquisição da Sapient esteja concluída até o fim do primeiro trimestre de 2015. Como é comum em casos de aquisição, os papéis da empresa compradora, a Publicis, fecharam ontem em baixa de 2,26% na Bolsa de Paris. O faturamento anual do grupo Publicis ficou próximo de 7 bilhões em 2013, com lucro global de 816 milhões.
Brasil
O grupo Publicis tem no País as agências Publicis Brasil, Salles Chemistri e Publicis Dialog, além de negócios na área de relações públicas. A presença da Sapient Nitro foi restabelecida no País no início de 2013, com a compra da iThink, de Marcelo Tripoli.
A Sapient Nitro inicialmente atuava no Brasil em parceria com a agência independente Santa Clara, mas o acordo foi desfeito em 2010. Hoje, o escritório brasileiro da agência – agora rebatizada Sapient Nitro Brasil – tem uma equipe de 60 funcionários. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.