Um relatório da Polícia Federal, obtido pelo Estado, indica que o grupo investigado por corromper integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) teria conversado com o banco Bradesco a respeito de um “contrato” para anular débito de R$ 3 bilhões com a Receita Federal. O relatório diz que o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, e outros dois executivos se encontraram com um emissário da organização para discutir como seria a atuação no órgão.
Segundo a investigação, o objetivo dos investigados era corromper conselheiros para influenciar a decisão do Carf ou mesmo comprar um pedido de vista para retardar o julgamento. No entanto, a investigação não chegou a conclusões sobre a participação dos dirigentes do banco no caso, porque a Justiça Federal não autorizou a continuação de escutas telefônicas.
“Tendo em vista o encerramento do monitoramento telefônico por determinação judicial, restou pendente saber se a presidência do banco iria compactuar com o grupo ou buscar corromper conselheiros para fazer valer seus interesses em detrimento da Fazenda Nacional, ou repudiar a oferta”, afirma o relatório da PF.
Segundo o inquérito, o esquema para apagar o débito foi articulado pelo auditor fiscal e ex-conselheiro do Carf Jorge Victor Rodrigues, sócio da SBS Consultoria Empresarial; Lutero Fernandes do Nascimento, assessor do ex-presidente do conselho Otacílio Cartaxo; e o ex-superintendente da Receita na 8.ª Região Fiscal Jeferson Ribeiro Salazar.
O grupo acionou o auditor da Receita Eduardo Cerqueira Leite para uma reunião com o banco. O encontro foi monitorado pela PF e, segundo o inquérito, ocorreu no último dia 9 de outubro, na sede do Bradesco, em Osasco. O relatório indica, além de uma breve participação de Trabuco, que também estiveram na reunião o diretor de Relações com Investidores Luiz Carlos Angelotti e um dos vice-presidentes do banco, Domingos Figueiredo de Abreu.
Procurado, o Bradesco negou que Trabuco tenha participado da reunião e não se pronunciou sobre os outros executivos. Em nota, o banco informou que possui estrutura própria, “suportada por renomados escritórios contratados em sua defesa nos âmbitos judicial e administrativo”, os quais “são os únicos autorizados a representá-lo”.
O advogado de Cerqueira Leite, Renato Vieira, informou que não teve acesso integral à investigação e que só vai comentá-la quando acessar o conteúdo. Segundo ele, seu cliente está à disposição das autoridades.