Ativistas colombianos denunciaram que grupos de extermínio estão aproveitando a quarentena do coronavírus no país para assassinar líderes socialistas em zonas rurais, segundo jornais locais e o britânico <i>The Guardian</i>. Desde que foi registrado o primeiro caso no país, no dia 6 de março, já ocorreram quatro assassinatos.
Segundo eles, as mortes foram surgindo à medida que as cidades passavam a adotar as ordens restritivas impostas na Colômbia para tentar evitar a propagação do vírus. A partir de quarta-feira, 25, o país entrará em quarentena nacional e os ativistas temem que esse número possa aumentar.
Somente na última quinta-feira, dia 19, três defensores dos direitos humanos foram assassinados nos Departamentos de Antioquia, Santander e Putumayo, segundo o jornal <i>El Espectador</i>.
O caso de maior destaque é o do ativista Marco Rivadeneira, um líder agrário de Putumayo. De acordo com o jornal, ele foi sequestrado e depois executado a tiros. Ángel Ovidio Quintero foi morto na região ocidental de Antioquia e Ivo Humberto Bracamonte, em Santander.
A Colômbia é um dos países mais perigosos para ativistas e líderes comunitários, que regularmente acabam vítimas dos grupos armados na antiga luta por território.
Desde que o histórico acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) foi implementado no início de 2017, 271 ativistas foram assassinados, de acordo com o <i>Guardian</i>. Agora que o governo concentra todos os seus esforços para conter a pandemia, ativistas afirmam que o risco está ainda maior.
O primeiro a ser assassinado em meio à nova crise foi Alexis Vergara, membro atuante do Sindicato de Trabalhadores do Engenho La Cabaña, no norte de Cauca. No dia 8 de março, ele recebeu três disparos de homens desconhecidos que o cercaram perto de seu trabalho, na zona rural de Caloto.
O jornal <i>Espectador</i> afirmou que um porta-voz da Federação dos Trabalhadores do Valle del Cauca lembrou que apesar de Vergara nunca ter tido recebido ameaças diretas, seu pai é o presidente do sindicato do qual ele fazia parte e um importante ativista pela defesa dos direitos dos trabalhadores da cana-de-açúcar.
"Eu tenho recebido mais ameaças de morte desde que se começou a falar sobre o coronavírus", disse o ativista Carlos Paez ao jornal <i>Guardian</i>. "Uma das ameaças que eu recebi dizia que eles sabiam quem eu era e agora era a hora de acabar comigo."
Alguns dos grupos de extermínio são combatentes dissidentes das Farc que se recusaram a entregar as armas; outros, pertencem a pequenos grupos armados e milícias paramilitares de direita.
Independente da inclinação ideológica desses grupos, todos fazem dinheiro com o tráfico de drogas, extração de minério ilegal e extorsão – e todos eles veem os líderes socialistas como um obstáculo para suas lucrativas atividades econômicas.
Como explica o <i>Guardian</i>, com o foco do governo nos recursos para conter o coronavírus – que até esta terça-feira já deixou 3 mortos e 277 casos confirmados – protocolos normais de segurança estão todos em desordem.
Estima-se que a guerra da Colômbia com as Farc e outros grupos armados tenha deixado ao menos 260 mil mortos e forçado 7 milhões a deixaram suas casas em meio século. Agora que o país já cumpre medidas restritivas e se prepara para entrar em uma quarentena nacional de 19 dias, atores paralelos estão operando mais livremente.
Uma coalizão de ONGs locais e mais de 100 comunidades rurais pediram um cessar-fogo entre grupos armados durante o surto. "A situação de emergência merece nosso foco como país e como sociedade para enfrentar esse desafio", dizia o comunicado, de acordo com o <i>Guardian</i>.
Muitos líderes e ativistas acusaram o presidente Iván Duque de não fazer o suficiente para reprimir o derramamento de sangue. Eles não estão otimistas de que a situação mudará à medida que o vírus se espalhar.