Cidades

Guarulhense ignora regras, expõe familiares e sempre arruma desculpa para descumprir restrições

Famílias inteiras, inclusive com crianças, vão para supermercados desrespeitando as regras mais rígidas de isolamento devido ao avanço da Covid-19 na cidade

“Só estou aqui porque preciso trabalhar. É triste ver que as famílias vêm inteira para os supermercados. Tem casal que chega aqui com três ou quatro crianças. Acham que o que estamos vivendo não é sério”, desabafou na manhã deste sábado, 27, uma senhora de 43 anos, caixa de um hipermercado na região central de Guarulhos, enquanto atendia um dos clientes. Ela lamentava que as pessoas ignoram as regras impostas pela fase emergencial do Plano São Paulo, que se tornaram mais restritivas com decreto da Prefeitura de Guarulhos que determina apenas uma pessoa por família dentro dos supermercados.  

A atendente conta que a população não respeita nada, mas gosta de responsabilizar os governantes pelo colapso no sistema de saúde em virtude do aumento de casos de Covid-19. Nesta sexta-feira, assim como o Estado de São Paulo, Guarulhos bateu mais um recorde em número de mortes em um só dia. Segundo o Seade, sistema que atualiza diariamente o avanço da pandemia, 54 pessoas vieram a óbito na cidade somente nesta sexta-feira, o maior número desde o início, há um ano. “Eles não respeitam as regras e depois colocam a culpa no prefeito, no governador e no presidente. Ontem, no São João, estavam todos sem máscara nas ruas querendo abrir o comércio”, lamentou.  

Sem se identificar, temendo represálias, a caixa disse que tem muito cliente que passa por ali tossindo e espirrando. “Parece até que estão nos provocando”, contou atrás da barreira de acrílico, usando máscara e passando álcool em gel nas mãos a todo momento. “Minha filha de 5 anos pediu para mim para ir no mercado fazer compras porque não aguenta mais ficar em casa, mas eu disse para ela que não pode. Não é hora”. Na fila de seu guichê, pelo menos duas famílias aguardavam a hora de passar. Ambas com crianças menores de 10 anos correndo de um lado para o outro dentro do estabelecimento.  

O casal se negou a falar com a reportagem. Apenas respondeu que achava normal estar ali no supermercado, apesar das restrições e do avanço da Covid-19. Um senhor, acompanhado da esposa, falou que não tem problema em estar ali, porque eles dois se cuidam bem, usam máscaras e procuram manter o distanciamento. Provocado sobre a restrição que determina apenas uma pessoa por família dentro do supermercado, tentou despistar. “Mas somos só nós dois. O problema é quem vem em muita gente”.  

O pânico da atendente tem motivos. “Temos uma colega aqui que está intuba. A doença já afetou até os rins dela. Estava bem e de um dia para o outro foi internada e está entre a vida e a morte”, contou, enquanto apontava para outra caixa que se preparava para assumir uma das posições. “Veja aquela senhora. Deveria estar de férias. Tem mais de 50 anos. Mas está aqui. Precisa trabalhar. É triste ver as pessoas desrespeitando nossas vidas”, explicou.  

Na entrada do hipermercado, uma funcionária aferia a temperatura de todos que ingressavam e passava álcool nos carrinhos. Questionada se barrava quem chegava em grupo para as compras, disse que não foi instruída para isso, alegando que a medida é ineficaz. “As pessoas dizem que não estão juntas, pegam cada uma um carrinho e entram do mesmo jeito”.  

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU), responsável pela fiscalização em estabelecimentos comerciais, informa que as equipes de fiscais estão nas ruas neste fim de semana, visitando diversos bairros da cidade a fim de verificar se os comerciantes estão seguindo as determinações estabelecidas pelo Plano São Paulo. A Pasta recebe denúncias durante a semana pelo número 2453-6700/6701/6705 e aos finais de semana pelo 153, número da Guarda Civil Municipal (GCM). 

 

Na praça 

Não longe do supermercado, a reportagem esteve numa praça também da região central, onde dezenas de pessoas aproveitavam a manhã de sol forte para caminhar ou correr. Muitos (mais da metade) sem utilizar a máscara de proteção. Um rapaz, que disse ter 35 anos, sem parar de andar, tentou despistar. “Estou aqui para manter minha forma física. Não uso a máscara porque estou ao ar livre”. Já uma jovem, que se negou a dizer a idade, falou que a máscara a sufoca e que acredita não ter perigo se exercitar sem a proteção. “Não pega nada. Estou bem”.  

Uma viatura da Polícia Militar, que passava pelo local, parou e abordou um homem, que estava de boné, sem camisa e uma mochila nas costas. Após pedir os documentos e fazer uma revista, os policiais liberaram o jovem, aconselhando-o a usar pelo menos a máscara, sob os olhares de uma senhora, de 64 anos, que disse estar contando os dias para poder ser vacinada. “Não saio de casa sem a máscara. Mas a gente chega aqui e encontra esse monte de gente andando como se nada estivesse acontecendo. A polícia devia levar esse pessoal preso”.  

 

 

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