A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da Prefeitura de Guarulhos realizou uma intervenção urbana com o tema “Prevenção ao suicídio: Todos pela vida” para chamar a atenção da população ao Setembro Amarelo. A ação ocorreu nesta quarta-feira (29) na avenida Tiradentes, uma das principais vias da cidade.
“Atualmente temos percebido um aumento no atendimento de casos de tentativas de suicídio. Precisamos cada vez mais promover debates que visem a prevenir essa autoviolência”, disse Gabriella Facunte Oliveira, coordenadora da RAPS.
Na oportunidade, funcionários e participantes dos serviços da rede entregaram mais de mil saquinhos com sementes de girassol àqueles que transitavam pelo local com o objetivo de evidenciar a ideia do “fazer crescer”. “O girassol foi escolhido em razão de seu simbolismo. Na fase de crescimento, a flor está sempre voltada ao sol, em busca de luz”, explicou Gabriella.
Além disso, árvores da avenida Tiradentes ganharam enfeites de crochê na cor amarela. De acordo com Solange Bená, gerente do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas, a prevenção ao suicídio só é possível dentro de um processo de rede. “É muito difícil avaliarmos a dor do outro, mas imaginamos que aquilo que não estava bom foi potencializado com a pandemia. O crochê representa a materialização simbólica dessa rede de suporte tão necessária, ainda mais neste momento”, contou.
Segundo Solange, nem sempre esses indivíduos têm transtornos mentais. “Às vezes são momentos de desespero e desesperança que os levam a desistir da vida. Pode ser um impulso ou algo premeditado. Nós, enquanto sociedade civil e equipamentos de saúde, temos a missão de acolher. A mensagem que eu deixo é: estamos aqui para te ouvir, apoiar e ajudar naquilo que for preciso para que você não desista da sua vida. Ela é muito preciosa”, pontuou a gerente.
De acordo com coordenadora da Rede de Urgência e Emergência (RUE), Simone Lima, a parceria com a RAPS tem focado na elaboração de novos protocolos de atendimento da linha de cuidado ao suicídio a fim de dar mais enfoque à humanização dos processos de trabalho. Vale enfatizar que todas as unidades de saúde do município estão abertas para acolher essa demanda.
A coordenadora de equipe do Projeto Tear, Denise Antunes, reforçou que quando se fala em saúde é preciso pensar de forma ampla, englobando principalmente o bem-estar psíquico. “O que fizemos aqui hoje é muito poderoso. Este tipo de ação nos dá mais fôlego para continuar a caminhada. Ao mesmo tempo em que estamos trabalhando o potencial de vida nas pessoas, entregando sementes que são capazes de florescer, também somos alimentados. Finalizo essa intervenção com muita gratidão por poder ver a força do coletivo”, salientou Denise.
Depoimentos
A intervenção urbana ganhou o reforço de Kadu Brito, morador da cidade que passava pelo local e decidiu se unir à equipe na rua. “Eu estava dentro de um transporte coletivo quando ouvi algumas pessoas fazendo comentários desagradáveis, dizendo que essa campanha era um gasto de recurso público. Como eu faço tratamento no CAPS Osorio Cesar, falei que esse serviço salva muitas vidas. Assim como eu, os filhos e os netos deles também podem necessitar desse acolhimento. Então eu me indignei e desci do ônibus para ajudar o pessoal na ação. Falar sobre isso é fundamental para evitar que cada vez mais pessoas cometam suicídio”, relatou.
Para Brito, é gratificante poder contar com os serviços de saúde mental do município. “Não é fácil viver sua vida e, em um segundo, você querer tirá-la. Eu me sinto muito acolhido em Guarulhos. Vim de outra cidade onde a depressão e o suicídio não eram abordados de maneira tão acolhedora como estou vendo aqui, o que faz toda a diferença”, disse Brito.
A participante do Tear Neusa Jeronimo de Azevedo abordou a importância do trabalho em equipe na confecção dos saquinhos com sementes entregues na intervenção. “Quando todos executam as atividades em conjunto ninguém se cansa. Se um não aguenta mais fazer determinada função, o outro assume o posto. A parte mais legal disso tudo é ver as pessoas recebendo com alegria e entusiasmo o mimo que fizemos com tanto carinho”.
Neusa conta que depois que a mãe faleceu ela se sentiu desamparada. “O Tear representa o resgate da minha vida. Perdi minha mãe e quase morri. Não tive apoio familiar e, se não fosse esse projeto, não sei se estaria viva hoje. Todo o time é muito maravilhoso e fui super bem abraçada. Eu acordo às 5h com prazer e disposição para participar das oficinas, faça chuva ou faça sol”, concluiu.
Atendimento
Para conhecer os horários de atendimento e os endereços dos CAPS acesse https://www.guarulhos.sp.gov.br/centro-de-atencao-psicossocial-caps. É possível também conversar com um voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) por meio do telefone 188. O serviço está disponível gratuitamente em todo o território nacional e atende 24h, todos os dias da semana.