Opinião

Guarulhos não é Maranhão

Em minhas andanças por Guarulhos ao longo desta campanha eleitoral, estou tendo a oportunidade de conhecer lugares que eu sabia que existia só de ouvir falar. Muitos chamam esses locais de “fundão”, que na verdade são rincões completamente esquecidos pela administração pública. É um verdadeiro choque de realidades distintas, que pode ser observado pela própria paisagem. Geralmente, pela grandeza, o Aeroporto Internacional de São Paulo, as pistas sempre aparecem ao fundo quando você olha ao longe. Mas quando você olha em volta, as cenas me remetem imediatamente ao périplo que fiz pelos “fundões” do Brasil 10 anos atrás, mais precisamente em cidades esquecidas no interior do Maranhão.


Uma cena daquela época que não sai de minha memória era o esgoto fétido que corria em frente às casas, até mesmo nas regiões centrais daqueles lugarejos chamados de cidades. Em Bacabal, por exemplo, tudo asfaltadinho, bonitinho, casas aparentemente boas, que contrastavam com aquele líquido verde que corria pela sarjeta. Quando eu questionava os moradores sobre aquele incômodo, as respostas eram parecidas: “a gente nem liga pra isso. Aqui sempre foi assim”.  E doía no coração ver crianças brincando naquele mar verde formado por todo tipo de me…lecas.


Nesta semana, rodando pelo fundão de Guarulhos impossível não ter Bacabal de novo em minha mente. A diferença é que a rua não estava asfaltada. Apenas guias e sarjetas novinhas em folha colocadas estrategicamente às vésperas das eleições como se fosse uma chantagem em forma de ameaça. “Olha, o asfalto vem aí..  mas o prefeito não pode mudar. Tem que continuar o mesmo, se não…” Coisa típica de um coronelismo que a gente sempre ouviu de nossos avós. Que entraram para o folclore político desse Brasilzão. Daqueles políticos que davam um pé do sapato antes da eleição e o outro depois, só se fossem eleitos.


Mas deu para perceber que o coronelismo do Maranhão, terra dos Sarney, nunca esteve tão perto de nós. Na mesma Guarulhos, que assiste na telinha da Globo a cara propaganda anunciando que tem esgoto tratado, como se isso não fosse obrigação de um governante, a me….leca corre a céu aberto sobre aquela sarjeta novinha em folha que ainda espera pelo asfalto, caso o coronelzão seja feliz em sua empreitada.


O que conforta, pelo menos, é ouvir dessas pessoas simples que vivem em meio a tanta me..leca que elas não querem mais saber dos coronéis. Nem mesmo dos mensaleiros e seus seguidores. Querem deixar para trás o abandono. Querem o asfalto sim. Mas acima de tudo dignidade. E aposta nas eleições do dia 7 para dar um basta a tanta meleca.

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