As eleições gerais deste domingo, 16, na Guatemala foram marcadas por casos de violência, ameaças e descrédito no processo eleitoral do país, afetado pela corrupção. Cerca de 8 milhões de eleitores foram convocados para escolher o presidente e o vice-presidente, assim como 160 deputados, 20 integrantes do Parlamento Centro-americano, além de 340 prefeitos.
Os primeiros resultados devem ser divulgados nesta segunda-feira, 17, mas as pesquisas de intenção de voto já apontavam para um segundo turno, em 11 de agosto, entre Sandra Torres, candidata da Unidade Nacional de Esperança, com 20,2% dos votos, e Alejandro Giammattei, do Partido Vamos, com 14,4%. Ambos são velhos conhecidos do eleitorado, pois já se candidataram em outras ocasiões, mas desta vez eles pareciam mais perto do que nunca de conquistar a presidência. Sandra Torres ficou em segundo lugar nas eleições de 2015, quando foi derrotada pelo atual presidente Jimmy Morales.
A votação foi cancelada no município de San Jorge, no Departamento de Zacapa, em razão das ameaças feitas no sábado à Junta Eleitoral, que decidiu renunciar. A região, com mais de 7 mil eleitores, terá sua eleição em 11 de agosto, quando o país deverá voltar às urnas se nenhum dos candidatos à presidência alcançar mais de 50% dos votos.
A Guatemala, tomada pela violência do narcotráfico e de gangues que provocou uma onda de migração para os Estados Unidos, teve 4 de seus 22 Departamentos classificados como “conflituosos” pelo Tribunal Supremo Eleitoral. Protestos tomaram dez Departamentos do país, mas foram todos controlados.
Daniel Abad Pérez, de 64 anos, votou cedo em uma escola da capital e se mostrou pessimista com relação ao cenário político. “Estas são as piores eleições que já vi. Todos os candidatos estão manchados pela corrupção”, disse. “O que nos espera se tudo é uma máfia e tudo é pelo dinheiro?”
Uma pesquisa recente da Gallup América Latina aponta que 31% dos entrevistados acreditam que a eleição será fraudada. Outros 20% pensam que os resultados serão questionados, já que 5 dos 24 candidatos à presidência foram impedidos de participar do pleito. Entre os vetados, dois estavam entre os mais populares, com grandes chances de disputar o segundo turno. Um deles é a filha do ex-ditador Efraín Ríos Montt, Zury Ríos, do partido de extrema direita Valor. Montt foi acusado de genocídio e crimes contra os direitos humanos pela morte de pelo menos 1,7 mil indígenas durante a guerra civil guatemalteca, na década de 80.
Ainda no domingo, as autoridades prenderam Luis Enrique Mendoza, que estava foragido e foi chefe militar de Montt, quando ele votava no Município de Salamá, no Departamento de Baja Verapaz, região central do país.
Após quatro anos no poder, o ex-comediante Jimmy Morales deixará o cargo em janeiro com uma queda crescente na popularidade e suspeitas de corrupção. Morales, um outsider que foi eleito após três ex-presidentes terem sido presos, prometeu lutar contra a corrupção, mas é investigado por supostamente ter recebido contribuições ilegais para sua campanha.
Ele também é responsável por encerrar as atividades da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), órgão atrelado à ONU, que em 11 anos foi responsável por desarticular mais de 60 estruturas de crime organizado e corrupção. / AP e W.POST
Pobreza e violência
O combate à pobreza e à violência dominaram as promessas dos 19 candidatos que disputam a sucessão do atual presidente guatemalteco, Jimmy Morales. A Guatemala é um dos países mais corruptos, segundo a Transparência Internacional, e ocupa a 144ª posição de um total de 180 países avaliados.
Neste contexto de corrupção, 59% de 17,7 milhões de guatemaltecos vivem na pobreza, apesar de a Guatemala ter fechado 2018 com um crescimento de 3,1%, segundo o Ministério das Finanças, que situa o PIB do país em mais de US$ 75 bilhões.
Cifras oficiais estimam que cerca de 1,5 milhão de guatemaltecos vivam nos Estados Unidos, dos quais entre 300 mil e 400 mil teriam residência legal.
Nestas eleições, pela primeira vez, postos de votação foram instalados nas cidades americanas de Los Angeles, Nova York e Houston para que os 600 mil imigrantes radicados pudessem votar. De acordo com fontes migratórias guatemaltecas, 94.482 pessoas foram deportadas pelo México e pelos EUA em 2018, a maioria originária de povoados indígenas no empobrecido oeste do país.
Milhares de guatemaltecos se aventuram a cruzar o México para chegar aos Estados Unidos, para fugir da pobreza e da violência no país, onde operam temidas gangues e quadrilhas de narcotraficantes. Em média, 5 mil homicídios são registrados por ano. Metade é atribuída ao narcotráfico e às gangues.
Os tentáculos do narcotráfico ficaram em evidência após a prisão nos EUA de um dos candidatos à presidência, Mario Estrada. Ele é investigado por ter encomendado a morte de dois adversários ao cartel mexicano de Sinaloa. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.