O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer nesta quinta-feira, 12, que o Brasil tem dinâmica própria de crescimento e que o País tem "capacidade e velocidade de escape" para manter a decolagem na economia. "Estávamos em pleno voo, começando a decolar quando fomos atingidos por essa onda (coronavírus). Mas temos capacidade econômica de produzir dinâmica diferente, não estamos sincronizados com economia mundial. Queda lá era inevitável", comentou.
Guedes também afirmou que analistas esperavam, antes do surto do coronavírus, uma alta de 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e que, com a eclosão da pandemia, essa previsão está sendo ajustada para baixo, para algo em torno de 2%.
"Eu já estimava 2% (de alta em 2020 antes da crise), e estou observando o efeito sobre a economia. Tem alguns setores que sabemos que vão ser impactados, como viagens internacionais, serviços em geral, quando você tem a cadeia hoteleira, diminui viagens internacionais, não se usa o hotel, passa pra restaurante, tem uma serie de efeitos que estamos analisando e nos preparando ali na frente", disse ele.
O ministro destacou medidas já em andamento que podem ajudar na economia brasileira, como a expansão na oferta de crédito pelos bancos públicos.
Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, Caixa, Banco do Brasil e BNDES têm um arsenal de pelo menos R$ 207,8 bilhões de recursos para emprestar a empresas e pessoas físicas. Guedes também citou a redução de compulsórios pelo Banco Central, e observou que o câmbio alto, "se por um lado atrapalha", auxilia nas exportações.
"Investimentos em saneamento, infraestrutura, logística. Câmbio alto, se por um lado atrapalha, auxilia nas exportações, juros estão baixos, investimentos internos na construção civil estão aumentando, crédito está expandindo a dois dígitos, bancos públicos abriram as comportas para empréstimo para pequena e média empresa, Banco do Brasil, BNDES, Caixa. Todos já estão em campo, abrindo a torneira, Banco central reduziu os compulsórios, temos ainda ferramenta monetária para usar. Estamos numa situação em que temos dinâmica própria de crescimento, não podemos é nos atingirmos, nós mesmos", disse o ministro.
<b>Reformas</b>
Guedes ainda voltou a reforçar a necessidade de aprovação das reformas que estão no Congresso, assim como das medidas que dão respiro ao aspecto fiscal. "Já mandamos umas 48 propostas, mas 16 são mais urgentes, destravarmos investimentos em saúde, saneamento, infraestrutura, logística, gás. Há uma série de propostas que podemos usar e acelerar nosso crescimento e reduzir impacto. Porque impacto vem, mas impacto passa. Na China, por exemplo, no ponto de vista de saúde pública, começou a passar", disse.
Na quarta, Guedes aumentou o desgaste com o Congresso ao participar de uma reunião de emergência sobre os efeitos do avanço do novo coronavírus. Deputados e senadores disseram que ele quis dar aula de história, "enquadrar" o Legislativo e eximir o Executivo de responsabilidade, quando se esperava que apresentasse medidas concretas de curto prazo como resposta à crise global.
<b>Dólar a R$ 5</b>
Questionado sobre sua afirmação de que, se ele fizesse muita besteira" o dólar poderia chegar ao patamar de R$ 5, patamar que foi registrado nesta quinta-feira, o ministro afirmou que não se referia apenas a si mesmo, ou ao governo, mas também ao Congresso Nacional e à imprensa. "É um bom sentido em que eu usei isso de besteiras, de se fizermos besteiras. Não era só eu, governo. Somos todos nós, o Congresso, o Senado, a Câmara, a Presidência da República, os ministros, opinião pública informada pela mídia, todos nós somos responsáveis. É hora de explorarmos as disputas? De jogamos os poderes uns contra os outros por pequenos deslizes de comentários? Ou é hora de tentarmos interpretar corretamente o que está sendo transmitido e tentarmos construir a saída juntos", questionou.
O ministro da Economia concluiu dizendo que, se as autoridades transformarem essa "disputa política", que são "bem-vindas em um regime democrático normal", em um mutirão de solidariedade" neste momento de emergência, estará "tudo sob controle".
<b>Recursos para saúde</b>
Guedes disse que uma das medidas instantâneas para enfrentar a epidemia do novo coronavírus no Brasil é enviar "já" novos recursos para o Ministério da Saúde. Segundo Guedes, as principais lideranças da Câmara e o governo receberam bem a ideia do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de colocar à disposição da pasta R$ 5 bilhões dos cerca de R$ 15 bilhões do orçamento que viraram centro de disputa entre o Executivo e o Parlamento.
Ainda segundo Guedes, o senador também sugeriu que outros R$ 5 bilhões – ou mais – sejam colocados em um fundo de emergência para combate a pandemia.
Questionado se já há acordo sobre essas destinações, Guedes apenas respondeu que o presidente Jair Bolsonaro pediu que seus ministros fossem ao Congresso para conversar sobre que medidas tomar frente ao avanço da doença, e que o Congresso "reagiu muito bem", incluindo parlamentares de oposição.
Na quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já havia dito que Congresso deveria liberar R$ 5 bilhões, via emendas feitas ao Orçamento, para o enfrentamento ao novo coronavírus.
"É simbólico. Em vez de disputa política por recurso, que era legítima, mas melhor ainda é sabendo que a saúde do povo brasileiro estando acima das disputas políticas. Mando pegar objeto de disputa e transformar em ferramenta de união. Três poderes, presidente da república, Congresso, já trocaram os sinais e mensagens, vamos nos unir, enfrentar essa crise", disse Guedes, que destacou a necessidade de descentralização de recursos para que os Estados sejam capazes de enfrentar a crise.
O ministro ainda afirmou que foi questionado na quarta por parlamentares sobre gastos emergenciais. Ele pontuou, no entanto, que para tomar qualquer medida nesse sentido é preciso abrir algum espaço fiscal. "Se justamente andarmos um pouco com as reformas, abrimos esse espaço fiscal e usamos uma parte dele certamente. Então estamos abertos a isso", disse.
Guedes também afirmou que medidas emergenciais, como orientar pessoas a não saírem de casa, dependem do Ministério da Saúde. "Ministro da Economia pode dizer, fiquem todos em casa, ninguém sai mais e o PIB de repente afunda. A Saúde é que sabe, orientação básica é da Saúde. Se lavarmos as mãos, nos cuidarmos, podemos ou não manter atividades normais. Evita o aglomerado, a contaminação em massa, mas leve sua vida normal, vá ao trabalho, volte ao trabalho, essa orientação tem que vir da Saúde", comentou. "Reafirmamos que, do ponto de vista da economia, temos toda serenidade, capacidade de enfrentar qualquer exacerbação indevida da crise, essa ansiedade, mercado de câmbio, ações, são naturais no sentido de crise. Mas temos serenidade, estamos seguros que é uma hora de transformar a crise me reformas", completou.