O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que o governo federal quebrou nos últimos anos, impossibilitando a continuidade de investimentos públicos. Por isso, mais uma vez ele destacou a importância dos investimentos privados para a retomada da economia após a crise.
"Como carimbamos todo o dinheiro (do orçamento), o investimento público foi amassado, e caiu para 1% do PIB. Mesmo se eu dobrar o investimento público não vou conseguir fazer o País crescer. A verdade dura é que o governo brasileiro quebrou em todos os níveis, federal, estadual e municipal", afirmou Guedes, em audiência pública da Comissão Mista do Congresso que acompanha as medidas relacionadas ao novo coronavírus.
O ministro da Economia disse também que a crise da Saúde não pode ser uma desculpa para haver transferências de recursos da União para Estados e municípios aumentarem gastos em outras áreas. "Quando começou a crise, aprovamos imediatamente R$ 90 bilhões em transferências para os governos regionais, mas depois os governadores pediram R$ 220 bilhões, segundo as contas do Tesouro.
Os governadores transformaram a crise da saúde em outra coisa, não pude concordar e pedi ajuda ao Senado", afirmou, em audiência pública da Comissão Mista do Congresso que acompanha as medidas relacionadas ao novo coronavírus.
O ministro lembrou que o projeto negociado com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), prevê transferências de R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões para governos estaduais e prefeituras, com a contrapartida de não haver reajuste dos salários dos servidores por 18 meses. "A transferência de recursos para Estados não pode virar aumento de salário", enfatizou.
Guedes voltou a defender a aprovação da PEC do Pacto Federativo que transfere uma maior parte da arrecadação federal para Estados e municípios. "Se o novo pacto já estivesse me vigor, os governos regionais teriam tido muito mais condições de enfrentar a crise com rapidez", completou.
Ao elencar as medidas já tomadas pelo governo, o ministro disse que o conjunto de ações pode representar entre 7% e 8% do PIB neste ano. "O déficit nominal pode chegar a 15% do PIB em 2020, é algo nunca visto. Por isso não pode haver uso de recursos que não sejam relacionados ao coronavírus, seria covardia. Se alguém aproveitar de crise para fazer política, ao invés de cuidar da Saúde, seria traição a povo brasileiro", acrescentou.
Guedes disse ainda que já acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) e pediu ajuda ao próprio Congresso para monitorar os gastos dos governos regionais durante a crise.
<b>Empurrão</b>
O ministro da Economia voltou a defender a aprovação de reformas pelo Congresso Nacional após a crise, mas garantiu que o governo federal também atuará pela retomada da economia. "Mas independentemente das reformas, o governo dará um empurrão na economia na saída da crise. Estávamos crescendo a 2,4% quando fomos atingidos pela pandemia", afirmou.
Questionado se o governo pode estender o auxílio emergencial por mais três meses, Guedes lembrou que uma ajuda por mais tempo não adiantaria se a economia não voltar a funcionar. "Seria uma situação como a da Venezuela, com as pessoas com dinheiro no bolso e sem produtos nas prateleiras para comprarem, com impacto na inflação", respondeu.
<b>Reservas</b>
Guedes voltou a destacar a possibilidade de venda de reservas internacionais pelo Banco Central para o abatimento da dívida pública. "Vendemos US$ 30 bilhões de reservas ano passado. Embora o ministro da Economia não deve falar sobre isso, a verdade é que temos discretamente vendido reservas", admitiu.
<b>Emissão de moeda</b>
Questionado por parlamentares sobre a possibilidade de emissão de moeda para combater a crise da covid-19, o ministro da Economia respondeu que "sim". "Bom economista não tem que ter dogma, é muito fácil fazer inversão de marcha. Se cairmos em uma armadilha de liquidez, em um cenário de inflação zero, o Banco Central pode sim emitir muita moeda e comprar dívida interna. Pode monetizar a dívida, sem gerar impacto inflacionário", respondeu.
Em entrevista a uma rádio na quarta-feira, o ex-presidente da República Luis Inácio Lula da Silva voltou a defender a impressão de moeda para que as pessoas possam ficar em casa durante a pandemia. Para o petista, a medida não traria risco à inflação pela falta de demanda na economia.