Estadão

Guedes pede moderação à mídia, ao STF e ao presidente Bolsonaro

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu há pouco mais moderação na relação entre os Poderes da República, inclusive ao presidente Jair Bolsonaro. Ele repetiu críticas a membros do Supremo Tribunal Federal (STF), sem atacar diretamente a instituição. "A mensagem é saúde, emprego e renda – e moderação. Eu também estou tentando ficar mais moderado, acho que a mídia tem que dar uma moderada, o Supremo, o presidente (Bolsonaro). Está todo mundo muito nervoso, muito ansioso, radicalizando de um lado e de outro", afirmou o ministro nesta quarta-feira , em videoconferência realizada pelo <b>jornal Valor Econômico</b>. "O Fla-Flu (eleição) é no ano que vem, não é agora", completou.

O ministro disse não acreditar em qualquer narrativa que envolva a possibilidade de um golpe na democracia brasileira. "Não acredito na barulheira de que vai haver golpe, não é minha hipótese de trabalho. Volta e meia alguém sai da caixa e faz um barulho infernal, mas a democracia bota pessoa na caixa de novo", avaliou.

Em tom conciliador, Guedes assumiu erros próprios de avaliação e disse todos os atores de qualquer poder também podem se equivocar. "Às vezes no Executivo tem gente que sai da caixinha e fala o que não devia falar. Tem gente no Supremo que sai da caixinha também, faz besteira. O STF às vezes funciona como corte criminal e comete excessos, mas esses excessos podem ser cometidos por atores, não pela instituição. Todos somos humanos e erramos, eu mesmo errei na dosimetria da reforma tributária", acrescentou.

Guedes reclamou, no entanto, do que chamou de "negacionismo" na economia, em referência a projeções pessimistas do mercado sobre a crise da pandemia de covid-19 que não se concretizaram. "Há um negacionismo fabuloso na economia, mas todos os setores estão voltando. Acusam governo de negacionismo na saúde, mas nunca vi tanto negacionismo na economia", rebateu.

O ministro projetou que assim como a atividade caiu menos e se recuperou mais rápido do que muitas estimativas de mercado, a dívida bruta deve chegar ao fim de 2021 em 83% ou 82% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto muitos projetavam um endividamento de 100% do PIB. "Já tem gente dizendo que podemos zerar (o déficit) primário antes de 2024, a arrecadação vem forte", disse.

<b>Eletrobras</b>

Paulo Guedes também disse que a privatização da Eletrobras deve acontecer até o primeiro trimestre do ano que vem. "Eu adoraria que fosse até o fim deste ano, mas os cálculos são de que pode ser no primeiro trimestre do ano que vem", afirmou o ministro durante live do <i>Valor</i>.

O ministro descartou a possibilidade de as eleições do ano que vem adiarem a transferência da estatal ao setor privado. "Não tem mais esse negocio de eleição. O governo vai fazer reforma o tempo inteiro. Todo mundo já entendeu que a Eletrobras vai ser privatizada", assinalou Guedes, considerando que adiar privatizações, ao invés de gerar, pode tirar votos do presidente Jair Bolsonaro na busca por reeleição, dado que os recursos levantados no processo podem contribuir, dentro de um fundo nacional, para reduzir a miséria no Brasil.

Guedes aproveitou ainda a live para rebater críticas aos pontos não associados ao assunto original, os chamados "jabutis", incluídos na medida provisória que abre o caminho para a privatização da Eletrobras. "Os críticos da privatização da Eletrobras não têm noção do que estão falando", disse o ministro. Ele frisou que os "jabutis" derivam de pleitos regionais que considerou serem importantes e têm peso "relativamente modesto".

O ministro também destacou os desdobramentos previstos a partir da privatização, e a entrada de recursos no caixa da União, como a revitalização dos recursos hídricos das bacias do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba, que consumirá R$ 3,5 bilhões em dez anos.

Durante a live, Guedes reafirmou o seu desejo de acelerar as privatizações, inclusive com venda de ativos imobiliários. Disse ainda que gostaria de levar as estatais ao Novo Mercado – citando, inclusive, por engano, o Banco do Brasil, que já está no nível mais alto de governança corporativa da bolsa.

O ministro considerou que as ações da Petrobras poderiam subir 50% em duas semanas com a listagem no Novo Mercado – mas que porém o governo sofreria "tiroteio de todo lado" se levasse a ideia adiante.

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