Os chefes de Estado dos países que integram o G20, grupo das vinte nações mais ricas do mundo, discutem, em Seul, na Coreia do Sul, uma proposta de ação coordenada que possa colocar fim à chamada guerra cambial. O problema maior se dá em relação à postura dos Estados Unidos e da China, que estariam forçando a desvalorização de suas moedas como forma de beneficiar suas exportações.
Os americanos jogam para o governo chinês toda a culpa pelo desequilíbrio cambial nos mercados. Para Washington, a moeda chinesa, o yuan – cujo valor é controlado pelo governo -, deveria estar mais valorizada. Já o Brasil, junto a outros países que vem sendo afetados diretamente, entende que os Estados Unidos são os grandes responsáveis pela desvalorização do dólar frente a outras moedas. A tese se baseia no fato de que o Federal Reserve (FED, o banco central americano) está imprimindo mais dinheiro para estimular sua economia no pós-crise – o que tende a valorizar a moeda de outros países.
No Brasil, essa guerra cambial recai diretamente sobre os setores produtivos. Com o real valorizado frente ao dólar, os produtos exportados – que são cotados pela moeda norteamericana – acabam desvalorizados. Muitas empresas não se sentem estimuladas a produzir para o mercado internacional, o que pode enfraquecer a indústria brasileira. Por outro lado, o dólar mais baixo incentiva as importações. Há diferentes produtos que são mais baratos vindo de fora do que produzidos aqui. Ou seja, em muitos casos, é mais barato importar do que produzir. Tanto que se teme, neste fim de ano, ver o brasileiro preferindo, por exemplo, um vinho europeu ao nacional.
Para tentar reverter esse quadro, o governo brasileiro já começou a agir em diferentes frentes. Em menos de um mês, anunciou três medidas com o objetivo de restringir a entrada de capital estrangeiro no País e, assim, tentar atenuar a valorização do real. A principal delas foi a elevação de 2% para 4% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o capital estrangeiro que entra no País em busca de rendimentos de curto prazo (basicamente, títulos do governo). Nesta semana, a taxa voltou a subir, dessa vez para 6%. Mas o Brasil não é o único. No mês passado, o governo japonês decidiu intervir na cotação de sua moeda, o iene, algo que o país não fazia desde 2004. O Banco Central da Coreia do Sul também anunciou medidas que deverão interferir no câmbio a partir deste mês.
Porém, essas medidas – aqui no Brasil – ainda não surtiram efeito. Afinal, o capital externo chega aqui atraído pela política de juros altos, aliás, os maiores praticados no mundo. E os investidores, neste sentido, não têm pátria. Vão para onde se paga mais.
Ou seja, de pouco adiantará qualquer ação externa, como iniciativa do governo brasileiro, caso nossa Fazenda não faça a lição de casa, baixando os juros, como forma de tornar menos atraente a entrada de recursos especulativos. Ao mesmo tempo, seria uma forma inteligente de fortalecer os setores produtivos locais.