Estadão

Guerra na Ucrânia agrava fome em países da África

Primeiro veio a seca, que matou dois filhos de Ruqiya Hussein Ahmed, na Somália. Depois, veio a guerra na Ucrânia, elevando tanto o preço da comida que agora ela mal consegue manter os outros dois que sobreviveram. "Aqui, não temos nada", disse. "Meus filhos morreram de fome. Eles sofreram."

Na África Oriental, a seca deixou 13 milhões de pessoas passando fome severa – principalmente na Somália, Quênia e Etiópia. As colheitas atingiram o nível mais baixo em décadas e crianças desnutridas lotam hospitais. Na Etiópia, a guerra civil agrava a situação e impede a entrega de ajuda na região de Tigray – o primeiro carregamento em três meses chegou ontem. O conflito na Ucrânia piorou a crise ao pressionar o preço de grãos, combustíveis e fertilizantes.

Rússia e Ucrânia estão entre os maiores produtores mundiais de trigo, soja e cevada. Ao menos 14 países africanos importam metade de seu trigo dos dois países. "O conflito agravou uma situação já complicada", disse Gabriela Bucher, diretora da ONG Oxfam. "A região precisa da solidariedade internacional – e agora."

<b>TRAGÉDIAS</b>

Além da seca e da guerra, a pandemia interrompeu as cadeias de fornecimento e forçou muita gente a pagar mais por comida. Para piorar, uma infestação de gafanhotos no Quênia, a guerra civil na Etiópia, inundações no Sudão do Sul e os ataques terroristas na Somália contribuíram para a destruição de fazendas, o esgotamento das colheitas e o agravamento da crise alimentar.

Agora, a guerra na Ucrânia pode reduzir ainda mais "a quantidade e a qualidade" da comida, segundo Sean Granville-Ross, diretor da ONG Mercy Corps. "Atender às necessidades da população se tornará mais caro e desafiador", disse.

O resultado já é evidente na Somália, onde o preço de 20 litros de óleo de cozinha aumentou de US$ 32 para US$ 55, enquanto 25 quilos de feijão agora custam US$ 28, em vez de US$ 18. No Sudão, o pão quase dobrou de preço e algumas padarias fecharam por causa da queda de 60% das importações de trigo desde o início da guerra. No Quênia, o preço da gasolina subiu, provocando protestos.

A guerra também afetou o Programa Mundial de Alimentos, que neste mês reduziu as rações para refugiados na África Oriental e no Oriente Médio. Os recursos necessários para evitar a crise também não fluem mais, disse Bucher. Apenas 3% dos US$ 6 bilhões que a ONU precisa este ano para Etiópia, Somália e Sudão do Sul foram alocados. "O mundo precisa vir em socorro da África Oriental para evitar uma catástrofe", disse ela.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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