Mundo das Palavras

Guerra psicológica

As pessoas que caminham todos os dias pela área próxima da Praça da República, em São Paulo, já devem ter se acostumado a ver a logomarca histórica do movimento comunista, composta de foice e martelo, na bandeira vermelha hasteada numa fachada de prédio da Rua Rego Freitas, onde funciona o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.


 


Estas pessoas, hoje, certamente, teriam dificuldade de imaginar a angústia que a logomarca criava, 48 anos atrás. Uma angústia gerada artificialmente por dois falsos institutos: o IPES, “de pesquisas e estudos sociais”. E o IBAD, “brasileiro de ação democrática”.  Neles se reuniam os militares e os empresários empenhados na derrubada do presidente eleito João Goulart.


 


Ambos, sob orientação do pesquisador social Arlindo Lopes, geraram aquela angústia, com o objetivo de atrair o apoio da classe média na instalação de uma ditadura militar no país, como revela o mais importante estudioso do Golpe Militar, René Dreifuss, em “1964: a conquista do Estado”.   


 


O IPES/IBAD forneceu gratuitamente a 800 jornais e emissoras de rádio de todo o Brasil um tipo de material no qual,  “através de associações de ideias, fazia-se uma miscelânea de condenações a João Goulart, ao Partido Comunista, Tito, Mao, Kruschev, Cuba, uniões estudantis, sindicatos, à reforma agrária, à estatização, ao Partido Trabalhista Brasileiro, à corrupção, ineficiência e socialismo”, revela ainda Dreifuss.


 


Analisando o material impresso usado em Belo Horizonte nesta guerra psicológica, constata Heloisa Murgel Starling, em “Os senhores das Gerais”: a visão de comunismo veiculado ali era “primária e grotesca”, e, por isto aterradora. Um trecho deste material: “Quer você trocar a vida tranquila e simples do tradicional lar mineiro pela vida que levam aqueles que choram atrás do Muro da Vergonha ou daquelas que assistem à destruição de seus familiares no paredón, enganados e esmagados pela Ditadura Vermelha?”. 


 


A campanha de pânico não apenas assustou a classe média. Também rendeu muitas contribuições de empresários, inclusive de representantes de multinacionais estrangeiras, gerando a chamada “indústria do anticomunismo”.

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