O embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, afirmou que, "com a agressão da Rússia à Ucrânia", a instituição busca parceiros confiáveis e reforça o interesse no acordo com o Mercosul. Em entrevista exclusiva ao <i>Estadão/Broadcast</i>, Ybáñez disse que o conflito fez o bloco priorizar o processo e que, apesar de admitir ser difícil que isso ocorra, "seria muito bom" assinar o acordo logo depois das eleições, independentemente de quem ganhar.
Ybáñez adiantou que a Comissão Europeia já tem um esboço do documento adicional que será apresentado por exigência de países europeus como forma de assegurar que o Brasil cumprirá compromissos ambientais. Entre os pontos previstos, está a exigência de mais recursos para órgãos ambientais como o Ibama.
"O problema é que os compromissos estão lá, mas os resultados, não. Quando você olha os índices de desmatamento do Brasil antes e depois de Glasgow (COP-26), continuam os mesmos", afirmou.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
<b>O Ministério da Economia disse ter sido procurado por representantes da União Europeia para reabrir as negociações sobre o acordo com o Mercosul. Houve essa aproximação?</b>
Ficamos surpresos porque, para nós, as negociações nunca foram fechadas. Ao contrário, nos últimos tempos tivemos avanços importantes em partes que não são tão visíveis, como sobre indicações geográficas. O acordo para nós sempre foi e continua sendo uma prioridade e, com a agressão da Rússia à Ucrânia, a busca por parceiros confiáveis é ainda mais importante do que era no passado. Podemos dizer que há um interesse reforçado. Seria muito bom neste momento sair um acordo UE/Mercosul, é importante para as duas regiões. Seria muito bom logo após as eleições, seja qual for o governo eleito, sair com um acordo assinado.
<b>O acordo foi fechado em 2019, mas ainda falta ser ratificado. Por que o processo é tão demorado?</b>
O que aconteceu em 2020 e em 2021 foi que os índices de desmatamento do Brasil não deixaram de crescer, então surgiu uma desconfiança de países da União Europeia de que, com esses números, não seria possível para o Brasil cumprir seus compromissos ambientais. Chegamos a um compromisso de buscar um documento adicional onde vamos recuperar a confiança através de compromissos bem estabelecidos em relação ao desmatamento. Finalizamos recentemente nosso trabalho interno dentro da Comissão Europeia e vamos apresentar a proposta para os Estados-membros.
<b>O que podemos esperar desse documento?</b>
O que teremos de buscar são elementos que restabeleçam confiança. Por exemplo, o Brasil tem de voltar a colocar orçamento dentro dos órgãos que têm de fazer controle de desmatamento, como Ibama e ICMbio. Ninguém na União Europeia nem nos Estados-membros discutem a soberania do Brasil sobre a Amazônia. Dito isso, o que oferecemos é cooperação.
<b>O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas para a Presidência, falou na campanha em reabrir as negociações do acordo Mercosul/UE. É algo que preocupa a UE?</b>
Temos tido conversas com a equipe dele e acho que, quando a equipe conhecer em mais profundidade o acordo, vai ficar mais confortável. O que vamos dizer é que, tecnicamente, quando você chega a um acordo é o resultado de um equilíbrio de forças. Se você reabre as negociações, esse equilíbrio pode desaparecer. Do lado da UE, não há uma preocupação com o resultado das eleições, não é um acordo entre governos, mas entre sociedades.
<b>O ministro da Economia, Paulo Guedes, recentemente disse que a França está ficando irrelevante para o Brasil e usou um palavrão. Isso prejudica as relações e as negociações?</b>
Sempre qualquer palavra um pouco fora das relações ótimas entre a UE e o Brasil atrapalha um pouco, não podemos evitar. Mas também são ditas por outros políticos europeus. Eu, como embaixador da União Europeia, gostaria que nem um nem outro falasse esse tipo de coisa. Mas, quando temos contato com o ministro Guedes, as mensagens são muito diferentes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>