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Guerreiras, tenistas tentam consolidar melhor geração feminina do Brasil

Foram apenas seis meses entre a medalha de bronze na Olimpíada e a primeira final de Grand Slam brasileira em 40 anos. O tênis feminino brasileiro, ofuscado nos últimos anos pelo masculino, cresceu e apareceu de vez no cenário mundial. E, com o brilho de Beatriz Haddad Maia, Luisa Stefani e Laura Pigossi, tenta se consolidar naquela que pode ser a melhor geração da história do tênis nacional.

Este grupo já tem uma medalha de bronze, a primeira do tênis brasileiro em Olimpíadas, e uma final de duplas de Grand Slam, a ser disputada por Bia Haddad na madrugada deste domingo. Se o título vier, a número 1 do Brasil em simples poderá consagrar esta geração como a melhor de todas, superando as tenistas que brilharam internacionalmente na década de 80.

Há cerca de 40 anos, os destaques brasileiros eram Niége Dias, Patrícia Medrado, Cláudia Monteiro, Andrea Vieira e Gisele Miró. Todas estiveram no Top 100 do ranking de simples, algumas se destacaram nas duplas também, e conquistaram títulos, embora de menor relevância. Nos torneios de maior porte, quem foi mais longe foi Cláudia Monteiro, finalista e vice-campeã nas duplas mistas em Roland Garros, em 1982 – na ocasião, formou dupla com o compatriota Cássio Motta.

Bia igualou o feito ao avançar à final de duplas do Aberto da Austrália, jogando com a casaque Ana Danilina. Agora somente Bia, Cláudia e a lenda Maria Esther Bueno contam com finais de Grand Slam em seus currículos. De longe, Maria Esther é a maior referência brasileira por seu papel de desbravadora do tênis feminino e por seus 19 títulos de Major. Mas a ex-atleta, falecida em 2018, não chegou a levantar troféus com outras brasileiras nas décadas de 50 e 60, sem formar uma geração.

Somente na década de 80, houve um grupo de brasileiras se destacando de forma conjunta no circuito. E esta geração está sendo superada aos poucos pela atual. Mesmo que Bia não conquiste o título, a final já confirma o bom momento e o potencial das atletas nacionais, ansiosas por novos feitos.

Antes deste Aberto da Austrália, o tênis feminino ganhou seu espaço graças a Luisa Stefani, no ano passado. O grande marco foi a improvável medalha de bronze em Tóquio, ao lado de Laura Pigossi. Longe da lista das favoritas, elas entraram de última hora na chave, após seguidas desistências. "Foi algo muito marcante para o tênis brasileiro, inspira muito as meninas e mostra que tudo é possível", comentou Bia, no ano passado. "Foi uma injeção de motivação para outras tenistas, mais jovens."

Depois do pódio olímpico histórico, Luisa emplacou grande série de vitórias no circuito logo na sequência. Foram três finais seguidas e o primeiro título de WTA 1000, torneio somente abaixo dos Grand Slams. Embalada, alcançou a semifinal do US Open com favoritismo, ao lado da canadense Gabriela Dabrowski. Mas uma lesão no joelho direito interrompeu o sonho durante o jogo. Ou seja, a final de Slam já poderia ter vindo em setembro.

Mesmo afastado do circuito, para se recuperar da cirurgia no joelho, Luisa fez história ao atingir o nono lugar do ranking de duplas, a melhor posição de uma brasileira desde Maria Esther. O sucesso dela ajudou a colocar o tênis feminino sob os holofotes.

"A galera começou a acompanhar os meus jogos na TV. Quase todos foram transmitidos durante o US Open, algo que eu não tinha visto antes, principalmente na dupla feminina", disse Luisa, em entrevista ao <b>Estadão</b>, em dezembro. "Gosto de dar mais popularidade para a dupla feminina, temos muito potencial de crescer no mercado. Se a gente tiver mais oportunidade, isso vai acontecer. E, depois da Olimpíada, eu percebi muita gente nos assistindo, acompanhando os resultados do tênis feminino."

Os triunfos de Luisa e Bia já respingam nas compatriotas. Laura, embalada pelo bronze olímpico, estreou em Grand Slams neste Aberto da Austrália. E emplacou bons resultados logo após Tóquio. Carolina Meligeni, sobrinha de Fernando, também disputou seu primeiro Major em Melbourne. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019, ela conquistou o bronze jogando com Luisa.

As quatro tenistas são as brasileiras mais bem ranqueadas nas duplas atualmente. "Acho que uma pessoa puxa a outra porque a gente cresce junto, vê o circuito juntas", comentou Bia, ao <b>Estadão</b> no ano passado. "Quando a gente vê quatro meninas assim, temos que ter muita felicidade de poder vê-las espremendo tudo o que elas têm. Ser atleta feminino no Brasil é muito duro. Sei da pressão que é, da expectativa que é. Sei que brasileiro gosta de torcer, mas também gosta muito de ganhar."

GUERREIRAS – Um dos maiores conhecedores do tênis feminino atual, Larri Passos vê o crescimento da atual geração brasileira como resultado de investimentos a longo prazo e também da postura persistente de cada tenista.

"Nada acontece por acaso, acontece com o trabalho delas. São vários os fatores para explicar o que está acontecendo agora. Tivemos um aporte muito bom da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Foram projetos que tinham o patrocínio dos Correios na época. Mandaram vários jogadores para os torneios juvenis, houve investimento. E as meninas não desistiam depois disso. E aí começa a surgir o fruto de todo esse trabalho", disse ao <b>Estadão</b> o ex-treinador de Gustavo Kuerten.

Após guiar Guga rumo ao topo do ranking e ao tricampeonato de Roland Garros, Larri se especializou no tênis feminino. Atuou em diferentes países, como China, Alemanha, República Checa, Eslováquia e Áustria. "Uma coisa que aprendi no tênis feminino é que, se a mulher não for guerreira, não chega lá. E nós temos três guerreiras: Laura, Luisa e Bia."

A persistência virou uma marca das tenistas brasileiras desde Niége Dias, avali Larri. E ele lembra que a geração atual começou com Teliana Pereira, já aposentada. "Começamos uma safra com a Teliana Pereira, que era impressionante como era guerreira. E já dava para ver isso na geração da Niége Dias", comparou o treinador.

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