Estadão

Guilherme Mello: Não nos cabe julgar política monetária, trouxemos fatos

Após sucessivos destaques sobre o impacto dos juros sobre a economia, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse nesta sexta-feira, 17, que não cabe a ele e sua equipe julgar a política monetária. "Trouxemos fatos", enfatizou. "É fato que a maior taxa real de juros do mundo afeta o mercado de crédito", continuou sobre o atual nível da Selic, que hoje está em 13,75% ao ano.

De acordo com o secretário, a análise feita pela SPE é técnica e não esbarra no trabalho feito pelo Banco Central. "Nossa análise não é sobre o mérito da política monetária, se está certa ou não", disse, após ser questionado pelo <i>Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, sobre como pedir uma redução dos juros ao mesmo tempo em que a equipe revelou a estimativa de inflação maior para este e o próximo ano.

Mello salientou que a projeção anterior para a inflação de 2023, ainda apresentada pela equipe do então ministro da Economia, Paulo Guedes, estava profundamente deslocada. O secretário também comentou que, apesar de mais elevada agora, suas projeções para o IPCA seguem abaixo da mediana das estimativas do mercado na Focus. Ele disse mais uma vez que os dados apontam que a política monetária exerce forte impacto contracionista na economia. "Estamos muito descolados (de outros países) na taxa de juros real", comparou.

A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, acrescentou que muito da alta da inflação projetada pelo mercado se deve a especulações. Mello comentou ainda que a equipe econômica está comprometida em explicar de forma crível e transparente cada variável do novo boletim. "Não dizemos que o nosso número é certo ou errado, é apenas a nossa forma de enxergar", observou.

Mello defendeu que quanto antes começar a sinalização de redução da Selic, mais cedo se verá o impacto no mercado de crédito e sobre a atividade. "Quanto antes for possível reduzir a Selic, melhor vai responder a economia em 2023 e 2024", disse.

De acordo com ele, é evidente que o Brasil apresenta uma inércia inflacionária elevada, mas as projeções da SPE já incorporam essa variável. A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, acrescentou também que as projeções da secretaria consideram o cenário do mercado para a Selic.

Mello argumentou que não necessariamente um crescimento maior significa inflação também maior e garantiu que o cenário de inflação da SPE está compatível com o cenário de crescimento da secretaria. "Acreditamos que é possível crescer mais com inflação menor, não há incompatibilidade", disse, acrescentando que não há nenhuma contradição em prever crescimento maior e inflação menor

O secretário comentou que apenas o Brasil e a Turquia adotam o ano calendário para o cumprimento da meta de inflação, e avaliou que a Turquia não é bom exemplo. Desde o início deste governo voltou a haver um debate sobre o sistema de metas de inflação no País, não apenas em relação ao objetivo, mas também sobre o período a ser cumprido pelo BC – se ano calendário ou algum tipo de média móvel ao longo do tempo.

Para Mello, não é só possível como também é plausível fazer um ciclo de política monetária defasado do momento atual. "Não há incompatibilidade em reduzir juros com inflação acima da meta", disse ele que hoje apresentou projeções para o IPCA acima do objetivo a ser perseguido pelo BC para este e o próximo ano. Raquel Nadal fez questão de enfatizar de forma irônica que uma função objetiva do Banco Central no Brasil também diz respeito ao crescimento.

<b>Impactos positivos</b>

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que os impactos positivos das medidas do governo serão mais visíveis a partir do ano que vem, ao apresentar as projeções macroeconômicas para este e os próximos anos. "Esperamos uma aceleração do crescimento para 2024", afirmou.

Segundo o secretário, a grade de parâmetros apresentada hoje pela primeira vez por este governo tem grau de "realismo e transparência" bastante elevado. Ele enfatizou que todas as projeções são constantemente revisadas e que sua equipe seguirá acompanhando a trajetória da economia global e da brasileira.

Questionado sobre os números apresentados, com as estimativas para a inflação maiores do que as anteriores e as para o PIB, menores, Mello defendeu o novo modelo da SPE. "Acreditamos que hoje esse é um cenário realista", disse.

<b>PIB</b>

Guilherme Mello disse que, mesmo com uma projeção menor para o PIB que a do governo, o mercado já projeta déficit primário de 1% do PIB, que é a promessa de entrega feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"As projeções não alteram a intenção de trazer um déficit primário para 1% do PIB em 2023", disse durante entrevista coletiva.

Segundo o secretário, com o cenário de PIB melhor para os próximos anos, como é projetado pela SPE, pode levar um quadro melhor para o primário. De acordo com a SPE, o PIB crescerá 1,61% este ano, 2,34% em 2024 e 2,76%, 2,42% e de 2,49% para os anos seguintes, respectivamente.

Posso ajudar?