Estadão

Gustavo Petro é eleito na Colômbia, 1º presidente de esquerda da história do país

Os resultados parciais indicam que o ex-guerrilheiro Gustavo Petro será o novo presidente da Colômbia, colocando a esquerda pela primeira vez no governo do país. Com 97,6% das urnas apuradas, o candidato do Pacto Histórico tem 10.984.247 votos, que representam 50,57% dos votos superando o populista de direita Rodolfo Hernández, que recebeu 47,16%, ou 10.242.763 dos votos.

Aprofundando um ciclo eleitoral que tem eleito esquerdistas na América Latina, Petro promete profundas mudanças sociais na Colômbia, por décadas governada pela direita. Esta foi a terceira vez que o candidato, que tem 62 anos, concorreu à cadeira presidencial.

Analistas políticos explicam que, apesar de Petro ter conseguido força no Congresso, terá dificuldades de governar porque precisa da maioria para aprovar seu programa de governo. O bloco de centro-esquerda, que engloba o Pacto Histórico, o Partido Comunes (ex-Farc), os grupos indígenas e a Coalizão Centro Esperança, tem 35% das cadeiras. Metade do Congresso está nas mãos da centro-direita tradicional do país.

Nascido em uma família de classe média, de pai conservador e mãe liberal, e educado por padres lassalistas, ele levantou as bandeiras da mudança e da ruptura com as forças que tradicionalmente governam a Colômbia. Seu passado como ex-guerrilheiro ainda deixa muitos colombianos apreensivos.

Petro militou no M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana que assinou a paz em 1990. Ele conta que se rebelou contra o golpe militar no Chile em 1973 e uma suposta "fraude eleitoral" na Colômbia no mesmo ano contra um partido popular.

Admirador do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, na clandestinidade adotou o nome Aureliano, em homenagem ao personagem de Cem Anos de Solidão. Foi detido e torturado pelos militares e ficou preso por um ano e meio. Sempre foi um combatente "medíocre", de acordo com seus ex-companheiros de armas.

Após assinar a paz, Petro chegou ao Congresso e depois à Prefeitura de Bogotá (2012-2015). Como parlamentar, destacou-se por denunciar os vínculos entre políticos e os paramilitares de extrema direita, mas como prefeito ganhou fama de autoritário e mau administrador por seu plano caótico de estatizar a coleta de lixo, então nas mãos da iniciativa privada.

Em busca dos eleitores de centro e dos indecisos, Petro prometeu austeridade e respeito à propriedade. No Twitter, o candidato elencou garantias sobre temas que foram levantados como temores durante a corrida eleitoral.

Durante todo a campanha do segundo turno, Petro levantou dúvidas sob o processo eleitoral, insinuando que haveria fraude caso não fosse eleito.

Ele propôs ambiciosas reformas previdenciárias, tributárias, sanitárias e agrícolas e mudanças na forma como a Colômbia combate os cartéis de drogas e outros grupos armados.

Depois de votar, ele convocou os apoiadores a votar em grande número para "derrotar qualquer tentativa de fraude" e alegou, sem apresentar provas, que eleitores em algumas assembleias de voto estavam recebendo cédulas previamente marcadas como votos em branco na tentativa de "cancelar votos que iriam para a mudança."

O escrivão nacional, Alexandre Vega, defendeu a tarefa da autoridade eleitoral que chefia: "Apesar da desinformação, o processo eleitoral continua firme e forte", disse em discurso público com Duque.

<b>Uma eleição do voto contra</b>

Silvia Otero Bahamón, professora de ciência política da Universidade de Rosário, disse que, embora ambos os candidatos fossem populistas que "têm uma ideologia baseada na divisão entre a elite corrupta e o povo", cada um possui uma forma de encarar a luta contra o establishment.

"Petro se relaciona com os pobres, as minorias étnicas e culturais das regiões mais periféricas do país", disse Otero, enquanto os partidários de Hernández "são as pessoas que foram decepcionadas pela politicagem e pela corrupção. É uma comunidade mais solta, que o candidato alcança diretamente pelas redes sociais."

Pesquisas mostram que a maioria dos colombianos diz acreditar que o país está indo na direção errada e desaprova o atual presidente, Iván Duque, que não poderia concorrer à reeleição.

Muitos eleitores basearam sua decisão no que não querem, em vez do que querem. "As pessoas disseram: Não me importo com quem está contra o Petro, vou votar em quem representa o outro candidato, independentemente de quem seja essa pessoa", disse Silvana Amaya, analista sênior da empresa Control. (Com agências internacionais)

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