<i>Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.</i>
Em um mundo digital onde a alegria é frequentemente medida pelo número de curtidas e compartilhamentos, Gustavo Tubarão, com seus 18 milhões de seguidores, destaca-se não apenas por seu humor característico, mas também por ter escolhido dividir uma batalha pessoal.
Conhecido por seus vídeos engraçados do cotidiano, o influenciador mineiro traz à tona a luta contra a depressão e a Síndrome de Borderline, transtornos que desafiaram sua existência muito além das telas, no livro <i>O Trem Tá Feio</i>. Com relatos de experiências pessoais e também do seu psicólogo, o livro compartilha a sua trajetória de cura contra a depressão, com a esperança de que mais pessoas, na mesma situação, procurem por ajuda.
Em entrevista ao <b>Estadão</b>, Gustavo Tubarão detalha aspectos fundamentais de sua experiência pessoal e profissional, incluindo a relação complexa com a religião e a fé, que desempenharam papéis cruciais em sua luta contra a depressão e a Síndrome de Borderline. Ele aborda o uso de drogas e como isso impactou sua saúde mental, além de enfrentar preconceitos e críticas relacionadas ao seu diagnóstico e recuperação. Gustavo também discute o desejo de escrever outro livro, refletindo sobre a continuidade de sua missão em ajudar outros a compreender e tratar transtornos mentais. Confira os destaques a seguir:
<b>Uma batalha não tão silenciosa</b>
Foi em 2017 que Gustavo decidiu investir na carreira de influenciador. Paralelamente ao sucesso nas redes sociais, ele enfrentava uma intensa batalha contra a depressão e a Síndrome de Borderline, uma contradição marcante com a persona que projetava online. "Quando eu descobri que eu estava com depressão em 2017, eu não sabia explicar o que eu estava sentindo. É uma sensação que eu não desejo para o meu pior inimigo", diz.
A criação de conteúdo, que começou como carreira, rapidamente se tornou uma estratégia de enfrentamento. Gustavo descreve: "Eu comecei a gravar como uma forma para escapar, e mesmo fazendo terapia, eu não queria fazer nada, não queria sair da cama." Gravar vídeos, conta, transformou-se em uma terapia alternativa.
A decisão de abrir-se sobre sua saúde mental veio com o marco de alcançar 1 milhão de seguidores. O mineiro conta que ao bater o número, decidiu fazer uma postagem no feed. E no lugar de uma simples comemoração, fez um vídeo em que dividia a sua história. "Foi quando eu bati 1 milhão de seguidores que eu decidi falar sobre (depressão). Eu fiz um vídeo: 1 milhão de ansiedade, 1 milhão de crises de ansiedade", revela. Este gesto não só marcou um novo capítulo em sua vida, mas também iniciou uma missão de conscientização sobre a depressão.
<b>Um livro sem a pretensão de cura</b>
Nesse sentido, <i>O Trem Tá Feio</i> surge como uma extensão de seu compromisso em ajudar outros a reconhecer e tratar a depressão. Mas destaca: "O meu livro não vai curar ninguém da depressão".
Ao falar sobre as suas experiências, Gustavo não se furta de revelar aspectos dolorosos de sua vida, incluindo as tentativas de suicídio. Ele compartilha abertamente: "eu já tentei suicídio, e minha família só soube quando contei isso na internet". Esta confissão sublinha a seriedade de sua condição e a importância de discutir tais temas abertamente, buscando quebrar o estigma em torno da saúde mental.
Além disso, o influenciador toca em temas complexos como o uso de drogas e seu impacto direto em sua saúde mental. Ele reconhece a influência negativa que essas substâncias tiveram em sua vida, afirmando: "eu acredito que a síndrome do pânico bateu forte por efeito colateral de droga que eu usava também".
<b>Religião, fé e ciência</b>
No tratamento contra a depressão, o influenciador destaca a importância do apoio psicológico. "O que me salvou mesmo foi a psiquiatria, a psicologia". Além disso, a fé desempenhou um papel significativo no caminho de Gustavo.
Apesar de suas complexidades com a religião, ele encontrou conforto e força na espiritualidade. " Eu sou cristão, frequento igreja evangélica, mas eu particularmente não gosto de religião. Eu me considero como cristão evangélico. Eu nem acreditava muito em Deus assim, mas no fundo eu falava, Deus, se você existe, me ajuda a sair disso ", compartilha.
Gustavo também reconhece o impacto positivo das atividades físicas em sua saúde mental, considerando-as parte essencial de seu tratamento. "Atividade física salva minha vida". Essa combinação de tratamento profissional, apoio espiritual e autocuidado destaca a abordagem holística que Gustavo adotou em sua recuperação.
<b>A recepção do público</b>
A decisão de Gustavo Tubarão de compartilhar publicamente sua batalha contra a depressão e a Síndrome de Borderline gerou uma onda de diálogo sobre saúde mental nas redes sociais, com muitos seguidores expressando suas próprias lutas. "Eu fiquei impressionado com a quantidade de gente que também tem. E aquilo me assustou", revela Gustavo, evidenciando o impacto significativo de sua franqueza e a criação de um espaço para discussões abertas sobre o tema.
No entanto, sua jornada não foi sem críticas. Após a divulgação do livro, Gustavo enfrentou reações negativas de indivíduos que questionavam a possibilidade de cura da depressão. "Quando o livro ficou pronto, uma moça mandou um texto me xingando. Falando eu tenho depressão há mais de dez anos. Depressão não tem cura. Você está mentindo ", ele compartilha.
Apesar disso, o influenciador tem aspirações futuras de continuar sua carreira como autor. "Em 140 páginas, não deu para explicar tudo. Mas futuramente. Porque eu também estou vivendo uma nova fase", conta.
<b>Livro:</b> <i>O trem tá feio – como me curei da depressão</i>
<b>Autor:</b> Gustavo Tubarão
<b>Editora:</b> Citadel (144 págs.; R$ 52,90)
<b>ONDE BUSCAR AJUDA</b>
Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:
<b>Centro de Valorização da Vida (CVV)</b>
Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
<b>Canal Pode Falar</b>
Iniciativa criada pela Unicef para oferecer escuta para adolescentes de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
<b>SUS</b>
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis.