A queda de 0,3% no setor de serviços em setembro ante agosto confirma uma trajetória errática dessa atividade ao longo do ano, indicando perda de fôlego, avaliou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nos primeiros nove meses de 2023, na série com ajuste sazonal, o setor de serviços registrou expansão em cinco deles, recuando em quatro oportunidades: janeiro, -3,4%; fevereiro, 0,9%; março, 1,1%; abril, -1,8%; maio, 1,5%; junho, 0,1%; julho, 0,6%; agosto, -1,3%; e setembro, -0,3%.
Lobo frisa que há predomínio de taxas positivas, mas que as taxas negativas acabaram tendo magnitude maior. "Os serviços mostram, de fato, algum tipo de redução no ritmo frente ao final do ano passado", reconheceu.
O pesquisador frisa que houve perda de fôlego nos dois principais motores que impulsionaram o setor de serviços após o choque inicial da pandemia: transporte de cargas e tecnologia da informação.
No caso do transporte rodoviário de cargas, a safra agrícola recorde no País turbinou o desempenho no primeiro semestre do ano, quando há maior movimentação de insumos e os produtos colhidos, elevando assim a base de comparação para o segundo semestre.
"O comércio eletrônico já não tem mais aquele vigor (dos meses de pandemia), e contribui menos para o transporte de cargas", acrescentou.
Quanto à menor demanda por serviços de tecnologia da informação, o pesquisador explica que houve intensos investimentos de empresas nesse segmento durante a pandemia. Após uma espécie de adequação das companhias às suas necessidades de digitalização, a demanda por esse serviço se estabilizou em um patamar ainda elevado, porém inferior ao ápice da série histórica.
"A gente percebe um comportamento um tanto errático do setor de serviços em 2023, em função da perda de ritmo de alguns serviços", resumiu Lobo, acrescentando que há uma base de comparação elevada. "Você crescer sobre um mês de base de comparação mais elevada é mais difícil."
Na passagem de agosto para setembro, três das cinco atividades de serviços registraram retração: serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%), informação e comunicação (-0,7%) e transportes (-0,2%). Por outro lado, houve avanços nos serviços prestados às famílias (3,0%) e nos outros serviços (0,8%).
O crescimento nos serviços prestados às famílias foi impulsionado pelo salto de 16,3% no subsetor de outros serviços prestados às famílias, turbinado pela realização de um grande festival de música em São Paulo.
"Tem uma empresa selecionada na pesquisa que promoveu um grande espetáculo musical no período", explicou Lobo, referindo-se ao festival The Town, no Autódromo de Interlagos. "Essa receita não aparece em São Paulo porque a empresa é sediada no Rio, e não em São Paulo", acrescentou, justificando que o crescimento de receita mencionado foi então contabilizado no Rio de Janeiro, onde fica a sede da empresa.
Em setembro, o setor de serviços operava em patamar 2,6% abaixo do pico registrado em dezembro de 2022, que foi o mais elevado da série histórica da Pesquisa Mensal de Serviços, iniciada em 2011 pelo IBGE. Os Transportes funcionavam em patamar 5,0% abaixo do ápice registrado em março de 2023, enquanto os serviços de informação e comunicação operavam 1,9% aquém do recorde de outubro de 2022. Os Serviços profissionais, administrativos e complementares estavam 13,8% abaixo do ápice de março de 2012. O segmento de Outros serviços estava 15,1% aquém do auge de janeiro de 2012, e os Serviços prestados às famílias estavam 11,4% abaixo do pico de maio de 2014.
Lobo ressaltou que o setor de serviços é muito heterogêneo e diversificado, envolvendo tanto serviços prestados às famílias quanto a empresas, presenciais e remotos. Portanto, cada segmento pesquisado teria uma explicação diferente para a dinâmica de sua trajetória atualmente.
"É preciso tomar cuidado com essa relação feita de forma simplista entre juros (altos) e serviços", recomendou.
Segundo ele, a relação entre as taxas de juros e o setor de serviços como um todo não fica muito clara na média global dos serviços prestados.
"Porque ela (taxa de juros) estava em patamares elevados e não impediu que os serviços crescessem de forma consistente (após o choque provocado pela pandemia)", argumentou Lobo, lembrando que os juros altos podem ajudar o desempenho dos serviços financeiros, deixando as famílias mais inclinadas a poupar, ao mesmo tempo em que retraem o consumo de serviços prestados às famílias, por exemplo.