Conhecido por seu trabalho como cineasta, principalmente em filmes de terror, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, morto aos 83 anos no último dia 19 de fevereiro, vítima de broncopneumonia, também já realizou trabalhos musicais. Além de gravar uma marchinha de carnaval, denominada Castelo dos Horrores, Mojica fez uma participação especial na música “O Fim”, de Jair Bloch, em 2006.
Nesta canção roqueira de pegada quase heavy metal, faixa do álbum 1º Round, Bloch propôs uma reflexão em relação à intolerância entre os seres humanos, além da sinergia com os animais, pois, após a morte, todos serão iguais, reduzindo-se a ossos. Além disto, o músico paulistano também falou sobre um possível colapso da Terra, que provocaria o fim do planeta.
Dentro deste contexto, Zé do Caixão, então, foi chamado para declamar as seguintes palavras, no meio da música, antes do solo de guitarra: “Dos homens, dos animais, um dia todos os corpos serão iguais. As patas, a mente, aproveite enquanto a sua é diferente”. Tais versos foram compostos por Bloch.
No entanto, o músico também sugeriu que Mojica colocasse algo de sua autoria no fim da canção – frases que representassem a sua interpretação em relação à letra.
Desta forma, Zé do Caixão finalizou a canção assim: “Feios, bonitos, inteligentes médios ou imbecis. Por que inveja, ciúmes ou rancor? Pois, quando o manto da morte descer sobre a sua carne, você estará exalando um cheiro mau. Estará podre. E os vermes que habitam a sua carcaça irão deixá-lo simplesmente em esqueleto e, futuramente, vai se converter em pó, ajudando a própria Terra porque todos somos iguais”. O cineasta também participou do clipe, disponível no canal do YouTube de Bloch (https://www.youtube.com/user/jairbloch).
Fã do Zé do Caixão e de sua obra, o músico lembrou com carinho do dia da gravação. Sempre muito grato ao cineasta, Bloch afirmou que ele não cobrou nada para participar do projeto. “Disse, à época, que topou por ter gostado da canção. O máximo que deixou foi pagar um almoço”, recordou.
Deste trabalho, nasceu uma amizade entre os dois artistas. “Lembro-me do bom papo e das taças de vinho. Ele foi à minha casa, conheceu minha família e ficou até tarde da noite. Foi uma influência artística, mas também para a vida. Acreditou em mim desde o início da minha carreira. Zé do Caixão foi o único a fazer terror na história do cinema brasileiro. Um cineasta de verdade. Um amigo de verdade”, concluiu Bloch.