Há exatos 45 anos, em Bethel – cidadezinha a 160 km de Nova York, nos Estados Unidos – o mundo da música vivia o mais superlativo festival de todos os tempos: produzido para ganhar dinheiro, Woodstock começou a entrar para a História às 17h07 do dia 15 de agosto de 1969, quando Richie Havens subiu no palco e cumprimentou o mar interminável de pessoas voltadas para ele.
“Olá”, ele disse, primeiro. “Massa groovy, massa, massa. Como vocês estão? Como vocês estão lá atrás?”. Havens foi convocado pelo produtor Michael Lang para acalmar o público, já impaciente com os atrasos. Os relatos dizem que o artista estava receoso, mas subiu no palco mesmo assim. Três horas depois, ele fez a antológica versão de Freedom para encerrar a primeira apresentação do fim de semana.
O setlist que compôs o Festival de Woodstock é impressionante: Janis Joplin, Joan Baez, Crosby, Still, Nash & Young, The Who, Jefferson Airplane, Carlos Santana, Joe Cocker, Creedence Clearwater, Arlo Guthrie e muitos outros, e claro, Jimi Hendrix. Foram 65 horas, 32 shows, 400 mil pessoas, três mortes (acidentais, uma delas por overdose), dois nascimentos.
No ano seguinte, 1970, o diretor Michael Wadleigh recebeu o Oscar de documentário pelo seu Woodstock. O filme tem três horas de duração e imortalizou as imagens do festival, dos shows, das pessoas, dos bastidores. O evento também motivou estudos e diversas publicações. Em 2009, sai o livro Woodstock (publicado por aqui Editora Agir, 318 págs.), do jornalista e pesquisador Pete Fornatale, que entrevistou organizadores, artistas e público, e recuperou vários depoimentos da época, como de Jimi Hendrix e Janis Joplin. “Esse lendário encontro de tribos colocou Woodstock no centro e na vanguarda da consciência de cidadãos do mundo todo”, afirma o pesquisador no livro.
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No Woodstock de Wadleigh, dá para ver que nem tudo foram flores: choveu muito, o imenso campo que abrigou o festival virou um lamaçal, os atrasos gigantes foram constantes. A chuva causava problemas no equipamento elétrico e o livro de Fornatale assinala que os produtores ficaram muito preocupados com a possibilidade de um acidente com as torres de energia em volta do palco. Mutirões, inclusive de moradores, providenciaram alimentação para o público quatro vezes maior do que o esperado. Relatos de brigas entre a plateia também não são raros.
É possível questionar o caráter revolucionário, ou transformador, de Woodstock, o que o festival de fato alcançou, naquele 1969 tão confuso (homem na Lua, terror no Vietnã, a confusão terrível no festival de Altamont, em que quatro pessoas foram assassinadas). Mas até hoje, Woodstock persiste com vitalidade no imaginário da música pop ocidental como o maior de todos.
Já no dia 18 de agosto de 1969, segunda-feira cedo, com tudo claro, Jimi Hendrix encerrou o festival frente a 30 mil malucos que conseguiram resistir. Sua performance de The Star-Spangled Banner, o hino americano, é um dos momentos mais antológicos de sua carreira. A fazenda de Max Yasgur, meio sem querer, virou por três dias o lugar mais desejado do mundo por uma geração.