Sessenta anos depois de sua morte, Carmen Miranda continua viva no imaginário popular brasileiro. A Pequena Notável sempre carregou o estigma de ter se americanizado em Hollywood, criando um estereótipo de mulher brasileira que satisfazia aos interesses imperialistas dos EUA. Com seus turbantes, plataformas e balangandãs, Carmen realmente esculpiu uma persona que era um estereótipo, para os americanos como para os brasileiros, mas que ela tinha o mérito de não levar a sério. Suas performances (cantando ou atuando) eram marcadas pela autoironia
Ela não era brasileira de nascimento, mas tinha menos que um ano de idade quando saiu de Portugal, onde nasceu no dia 9 de fevereiro de 1909, e veio para o Brasil com sua mãe. Carmen foi a primeira artista multimídia do Brasil.
Talentosa, não só cantava, dançava e atuava, mas sabia, intuitivamente, transitar com desenvoltura pelo que viria a se tornar a indústria cultural.
Fez sucesso no Brasil e EUA, durante as décadas de 1930 e 1950, deixando sua marca em canções de Lamartine Babo, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Pixinguinha. No cinema participou de filme como Aconteceu em Havana, Serenata Boêmia, no qual ela dá sua versão de O Que É Que a Baiana Tem?; Sonhos de Estrela; Se Eu Fosse Feliz; e Copacabana. Neste último, ela contracena com Groucho Marx. Carmen encarnou, como ninguém, o dilema de fazer cultura brasileira para consumo externo. A atriz e cantora que todo o mundo considerava a cara Brasil era portuguesa, com certeza.
Ela foi considerada pela revista Rolling Stone como a 15ª maior voz da música brasileira. Um ícone e símbolo internacional do país no exterior. E, em A Era do Rádio, Woody Allen reverenciou seu talento, fazendo com que sua presença mágica fosse recriada por Denise Dumont.