O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a economia brasileira já está desacelerando há dois trimestres, refutando que essa perda de ritmo será resultado das políticas adotadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro repetiu que parte do eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro estava "iludida", acreditando na retomada.
"Grande parte do empresariado está torcendo para o País dar certo. Muitos não tinham noção do governo que estavam apoiando", afirmou Haddad, em live promovida pelo site <i>Brasil 247</i>.
O ministro voltou a dizer que as medidas adotadas por Bolsonaro às vésperas da eleição deixaram um legado negativo para a economia, com um elevado juro real, que dificulta investimentos produtivos, além do gasto fiscal. "Temos de 6% a 8% de juro real, qual investimento tem essa taxa de retorno? Custou 3% do PIB para tirar o pretexto de Bolsonaro dar golpe no País. Bolsonaro fez tudo para se manter no poder, não fez mais porque não teve condições."
<b>Encaixe de peças</b>
Fernando Haddad avaliou que apesar do momento desfavorável da economia internacional, o Brasil pode voltar a crescer, com baixa inflação e desemprego, se as "peças forem encaixadas" corretamente.
Na entrevista ao vivo promovida pelo <i>Brasil 247</i>, o ministro considerou que a alta liquidez externa se converte hoje em inflação mais alta nos Estados Unidos e na Europa. No caso do Brasil, ele citou que a situação inflacionária é melhor do que nesses países desenvolvidos, com o maior juro real do mundo.
"Temos inflação comparativamente baixa e taxa de juro real fora de propósito. Mercado sabe disso, não entendo porque esse custo da farra eleitoral não vem a público com clareza", disse Haddad. "O presidente fadado ao fracasso desesperadamente buscou a reeleição. A expansão de gasto veio acompanhada de brutal elevação dos juros", completou, voltando a relacionar o ciclo de alta de juros promovido pelo Banco Central às medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro às vésperas da eleição.
Segundo Haddad, há bolhas especulativas por todo lado no mundo, em um movimento que mostra que "o que ocorreu em 2008", em referência à crise financeira, não acabou até hoje. "Quando o mercado externo está bom, há condições mais e menos favoráveis. Grande mérito dos grandes governantes é aproveitar janelas de oportunidade. Não é duradouro céu azul em economia de mercado com especulação financeira mundial", avaliou.
<b>Reforma tributária</b>
O ministro da Fazenda afirmou que a discussão sobre a reforma tributária será iniciada pelos impostos indiretos, a partir de abril, com a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para simplificar a cobrança. Depois, o governo deve atacar a reforma dos tributos diretos, incluindo a tributação de lucros e dividendos, hoje isenta.
"Cesta de tributos no Brasil tem muito imposto indireto e pouco direto. Sem aumentar carga, podemos recompor cesta para sistema menos regressivo. Redistribuímos renda pelo gasto, mas não podemos abrir mão de redistribuir pela receita", afirmou o ministro.
Haddad reconheceu que não será fácil a aprovação da reforma, mas apontou que o governo anterior foi muito ambicioso e inviabilizou a votação da reforma, com defesa do retorno da CPMF.
Segundo ele, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo de Jair Bolsonaro não quis votar a reforma tributária. À época, Tebet estava no Senado. "Estive com Tebet, que disse que o governo Bolsonaro que não quis votar tributária. Tebet disse que pediu para votar a tributária no Senado, mas o governo Bolsonaro queria CPMF. Muita ambição às vezes inviabiliza a reforma, precisamos ser pragmáticos", comentou.
O ministro ainda considerou que a falta de limites para deduções no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) gera abusos.