O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, elogiou novamente nesta segunda-feira, 22, o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na confecção do novo arcabouço fiscal, vencendo críticas até de alas do governo. "Haddad trabalhou de forma muito dura. Eliminou completamente o risco de que a dívida saia do controle."
Campos Neto voltou a dizer, entretanto, que não há relação mecânica entre o arcabouço e a política monetária, que tem como conector o efeito nas expectativas. "A relação é através canal de expectativas. A pergunta é o que eu posso fazer para maximizar melhora de expectativas para abrir cenário em que o BC tenha condições para cair os juros."
Segundo Campos Neto, há uma preocupação no mercado entre a relação de gastos e receitas no arcabouço. "Não cabe ao BC comentar. O importante é ser feito com credibilidade, que é o que atua sobre o canal de expectativas e abre a capacidade para o BC atuar."
Durante sua apresentação em seminário do jornal <i>Folha de S. Paulo</i>, o presidente do BC citou o receio do mercado com o crescimento de gastos em termos reais. No relatório do arcabouço, o relator do projeto, Cláudio Cajado (PP-BA), determinou que as despesas podem crescer 2,5% em termos reais em 2024 sob qualquer condição de receita, como uma espécie de regra de transição.
Campos Neto ainda disse que não pode antecipar as decisões das próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), mas disse que o BC tem elucidado as preocupações principais, como a desancoragem de expectativas, a questão do hiato, a desinflação lenta e os núcleos persistentes, especialmente os preços de serviços.