Em uma verdadeira operação de guerra, o Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-FMUSP) termina neste fim de semana a montagem de uma unidade inteira destinada ao atendimento de infectados pela covid-19. A partir do início da próxima semana, o prédio do Instituto Central (ICHC) do complexo hospitalar, no bairro de Cerqueira César, zona oeste da capital, terá 900 leitos exclusivamente para os contaminados pelo novo coronavírus.
"Estamos com 200 leitos de UTI para atender a essa demanda da doença", afirmou Eloísa Bonfá, diretora clínica do hospital, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, na tarde de ontem. Pelo menos 700 leitos vão atender infectados com gravidade moderada. "A transferência de todos os pacientes da unidade central para outros prédios cria uma unidade exclusivamente para o atendimento da covid-19", disse a diretora, que é professora de Reumatologia na Universidade de São Paulo (USP).
O HC tem oito unidades de atendimento e 2.200 pacientes internados. A unidade da covid-19 será exclusiva para as pessoas contaminadas na pandemia. De acordo com a diretora do HC, a curva de contaminação está subindo em São Paulo. Nesta fase da preparação do HC, segundo ela, as equipes médicas estão trabalhando nos testes finais dos equipamentos, como os respiradores, e no treinamento.
<b>Ventilação</b>
"Nossa equipe de especialistas de ventilação, coordenada pelo professor Carlos Carvalho, é reconhecida como a melhor equipe nesta área", afirmou a médica. De acordo com ela, todo o efetivo do HC, cerca de 20 mil servidores, está em estado de alerta por causa da pandemia. "Temos pelo menos 6 mil profissionais dedicados ao atendimento da covid-19", diz Eloísa.
A diretora explicou ainda que os casos de suspeita de contaminação detectados na equipe são imediatamente afastados e testados. "Eles passam por uma avaliação e testes. Se o resultado é negativo, voltam ao trabalho", afirmou. Ela não quis revelar quantos pacientes já estão internados no HC com a covid-19. "Esses números de pacientes devem ser informados pela Secretaria da Saúde", argumentou a médica.
Segundo Eloísa Bonfá, o HC espera ainda pela doação de mais equipamentos. "Nós já temos os 200, mas gostaríamos de ter mais 100 leitos de UTI. A indicação que temos é a de que a curva (da epidemia) está crescendo", adiantou.
Ela acrescenta ainda que a chegada da doença ao País com dias de atraso, em relação à crise na Europa e na Ásia, permitiu que as equipes e estruturas do hospital se preparassem e houvesse o estudo das medidas adotadas no exterior.
Os pacientes com outros problemas de saúde, como vítimas de AVC, enfarte e câncer, por exemplo, argumentou a diretora, ficarão mais protegidos do risco de contágio por ficarem em prédios sem os pacientes com a covid-19. O mesmo ocorre com os profissionais de saúde que atenderão nos outros institutos.
Ao todo, cerca de 400 doentes tiveram de ser transferidos para outras unidades do complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, como Incor, Instituto do Câncer (Icesp), Instituto de Radiologia (Inrad), e outros, como Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), Instituto de Psiquiatria e Instituto de Medicina Física e Reabilitação (Imrea). Para Tarcísio Eloy de Pessoa Barros Filho, diretor da Faculdade de Medicina da USP, a remoção e recolocação de pacientes foi "a maior operação da história" do hospital.
<b>Encaminhamento</b>
De acordo com a direção do HC, os pacientes com suspeitas de contaminação devem ser encaminhados ao novo sistema pela Secretaria Estadual da Saúde. O hospital acrescenta que, em caso de suspeita, o paciente deve procurar atendimento primeiramente nas unidades básicas de saúde. Somente após este atendimento é que, se necessário, devem ser encaminhados para o HC-FMUSP. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>