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Helicóptero ao mar

Domingo passado, um velho amigo mandou uma mensagem por email: “Advinha onde estou?”. Logo em seguida, explicava: Em Macaé, no Rio de Janeiro, acompanhando o resgate de um helicóptero que tinha caído, a 100 quilômetros da praia, deixando quatro mortos. A mensagem endereçada a mim tinha um motivo: em 2003, eu trabalhava na empresa desse amigo como assessor de imprensa para uma companhia aérea, que prestava serviços para a Petrobras.


Era um sábado à tarde de julho. Estava com meu filho, que tinha pouco mais de um ano, enquanto minha esposa trabalhava, quando recebi uma ligação: “Caiu um helicóptero em Macaé. Corre para o Campo de Marte, em São Paulo, onde há um bimotor que vai levar você, o dono da empresa, o pai do piloto e mais umas duas pessoas para lá. Se vira!”. 


Sem ao menos fazer uma mala, fui para o início de uma aventura que durou quase uma semana. Embarcamos em um aviãzinho, sem ter a noção exata do que havia ocorrido. Sabíamos que o helicóptero tinha cinco ou seis pessoas a bordo e que tinha caído no mar.  Mais ou menos vinte minutos após termos decolado, o passageiro que foi no banco, ao lado do piloto, estava incomodado que a cortina tinha ficado preso na porta já fechada. O sujeito simplesmente abriu a porta para recolher a cortina. Por muito pouco, não protagonizamos outra tragédia. Não sei quantos segundos foram necessários para, após um esforço bem grande, que teve a ajuda do piloto, ele conseguir fechar a porta.


Passado o primeiro susto, o segundo momento mais estressante ocorreu tão logo aterrissamos em Macaé. Assistentes sociais da Petrobras já aguardavam nosso vôo para dar a notícia ao pai do piloto, que teimava em não querer acreditar na morte do filho. Como assessor de imprensa da empresa proprietária do helicóptero, eu era o principal elo de informações entre o gabinete de crise, na sede da Petrobrás de Macaé, e os repórteres. Era difícil explicar para alguns que era impossível ir até o local da tragédia ou mesmo fotografar o acidente.


Só retornei de Macaé, quatro ou cinco dias depois, após todos os corpos já terem sido reconhecidos no IML local e encaminhados para o sepultamento. Exatamente um ano depois, mas em um dia da semana, um outro helicóptero da mesma empresa caiu no mar. Esse foi mais grave. Foram mais de dez mortos. Mas desta vez, eu já não era mais marinheiro de primeira viagem numa cobertura como essas e consegui tirar de letra.


 


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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