Variedades

Henry Padovani, ex-Police, se apresenta em SP

O rocknroll é cheio de histórias sobre aquilo que poderia ter sido e não foi. Henry Padovani, francês nascido na ilha de Córsega há 62 anos, encarna e simboliza uma dessas sagas. Em 1976, com 24 anos, ele desembarcou em Londres sem falar necas de inglês e tocando mal sua guitarra. Iria ficar apenas 15 dias, mas foi pinçado por Stewart Copeland, baterista do grupo The Police, para integrar uma das mais importantes bandas da História – isso foi antes de surgir o nome de Andy Summers, gênio do instrumento.

Henry Padovani gravou o primeiro single do Police, com as canções Fall Out e Nothing Achieving. A trajetória do guitarrista foi tema de um livro e um longa, selecionado para o Festival de Cannes, em 2010 (o lançamento será no ano que vem). O filme biográfico Rocknroll of Corse (o nome tem a ver com a ilha de origem do guitarrista, a Córsega), dirigido por Lionel Guedj & Stéphane Bébert, traz depoimentos dos músicos e bandas que testemunharam a vida e a obra de Padovani, como Jeff Beck, Glenn Matlock, Sting, The Clash, Buzzcocks e outros. Em SP pela primeira vez para 2 shows, Padovani falou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Você poderia ser comparado a Pete Best, ex-Beatles?

É diferente. Não conheço Pete Best, pobre sujeito… Mas quando saí do Police, a banda estava longe de acontecer, não tinha dinheiro nem perspectivas. E eu não passei nenhuma dificuldade, pelo contrário. Quando entrei no Police, já integrava a banda Wayne County & The Electric Chairs, que era bem-sucedida. Nós pegamos o Police como banda de abertura para apoiá-los. Nunca me senti mal por nada disso. Quando me juntei a eles, eu era bem jovem e, ao sair, criei a minha banda, The Flying Padovanis, algo que me fez feliz. Fui vice-presidente de gravadora, ao lado do irmão de Stewart Copeland, Miles. Produzimos discos das melhores bandas, como R.E.M., Fine Young Cannibals, The Go Gos, Bangles, Fleshtones, Cramps. Nunca fui frustrado por não ter feito sucesso com eles, fiz o meu próprio caminho. Fui empresário do (cantor italiano) Zucchero, que vendeu mais de 15 milhões de discos. Sempre estive muito ocupado e bem-sucedido, nunca houve rancor entre eu e o Police.

Mas dizem que você foi demitido pelo Sting.

Não. Eu e Sting sempre fomos amigos. Mas a banda não estava indo a lugar algum. Não tinha dinheiro, shows marcados. Para uma banda acontecer, precisa de um elemento de sorte. Sting me disse: “Ouça, Henry, não está funcionando…”. Eu disse: “Eu sei”. Tivemos uma discussão, mas não desse tipo de “você está demitido”. Eles eram mais velhos que eu, precisavam de dinheiro, de combustível. Sugeri que seguissem com Andy. Mas eles se tornaram o número um, e tenho de encarar a realidade: eles eram melhores que eu.

Pete Best esteve aqui no Brasil tocando com uma banda cover dos Beatles….

O negócio da música é difícil. Não julgo ninguém por fazer isso ou aquilo para sobreviver. Acho que é mundo muito romântico. Sou amigo de Sting. Sou amigo de Stewart. Sou amigo de Andy. Mas Sting e Stewart não são bons amigos. É engraçado, porque em 2006 eu estava gravando um disco meu, solo, e em uma das canções era necessário um baterista de reggae. Meu produtor me disse: porque você não liga para Stewart Copeland? Liguei, ele aceitou na hora. Fantástico. E o produtor disse: por que não chama Sting também? Eu falei: seria oportunista. “Cmon, liga, seria fantástico!”. Eu liguei e Sting aceitou na hora, mas perguntou: “Você ligou para o Stewart?”. Disse que sim, e ele bufou. Aí foi que eu me dei conta que eles não se falavam havia mais de 5 anos. Eram uma das maiores bandas do mundo e odiavam uns aos outros. Mas os dois vieram e gravaram comigo, e se falaram de novo. E três meses depois acertaram aquela turnê de retorno do Police, e Sting me chamou para os ensaios. Mas acho que nunca mais tocarão juntos de novo.

O que os leva a se detestarem tanto?

O rocknroll é algo sobre o qual se fantasia muito. Creia em mim: eu conheci bandas melhores que The Police, The Clash, U2. O problema é quanto elas duram. É ter capacidade de permanecerem juntos. Veja o caso do R.E.M. Nós lançamos o primeiro disco dele. Eles estavam há um ano e meio peregrinando para lançar o disco. Nós éramos um selo pequeno, então fomos a última tentativa deles. Mas nós gostamos e apostamos neles. As grandes gravadoras estavam tentando encontrar um novo The Clash. Mas não nos importávamos. Era assim: primeiro prensamos 20 mil discos. Vendeu, fizemos um novo álbum, com 50 mil. E outro, com 100 mil. Levou um longo tempo. Quando o Police nasceu, era a banda do Stewart, não do Sting. Hospedei Sting no meu flat porque ele não tinha dinheiro nem para comida, estava deprimido. Queria largar a música, fazer outra coisa. Nós mostrávamos o disco do Police para todo mundo e ninguém queria. Quando Miles Copeland ouviu, afirmou: “Isso é porcaria”. Eram todas canções de Stewart. Então Miles falou: “Me toque alguma outra coisa”. “Tem uma canção que Sting compôs, mas é uma canção romântica estúpida…” E Miles pediu para tocar. Depois, disse: “Essa é boa, gostei! O resto é ruim”. Era Roxanne. E perguntou a Sting se ele tinha mais canções. “Tenho milhares, mas Stewart não me deixa tocá-las.” E Miles contou: “Vou tentar um contrato. Sting, continue me mostrando suas músicas”. E o resto é história. Se o Police aconteceu, foi por causa de Sting, não por causa de Stewart.

HENRY PADOVANI

Ao Vivo Music. Rua Inhambu, 229 – Moema, tel. 5052-0072. Quinta-feira, 4, 21h30. R$ 50.

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